Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

numa subversão de um texto que a tradição Ocidental sempre considerou
sagrado e a maneira mais segura de agir para garantir a salvação.
127
Mas ainda falta um drama para que Lúcio Cardoso encerrasse suas
investidas teatrais e para que esta análise fique completa.
4.5 – Angélica
4.5.1- A Crítica
Mas não se engane, enquanto riem e conversam, há dentro
deles um louco que espia sem nada compreender. Para este
ser estranho e de pupilas brancas, não existem as leis
naturais e a ordem estabelecida.
Angélica
Após três encenações fracassadas, Lúcio Cardoso assinala, em várias
anotações feitas em seu Diário, seu desânimo em relação à volta ao teatro ou
quanto ao “Teatro de Câmera”. Não descarta totalmente a idéia, mas não se
sente encorajado a tentar novamente. Em 29 de julho, registra que alguém lhe
telefona e pede que apresente sua peça inédita à atriz Maria Sampaio: “Não
creio que também ela se interesse por Angélica. De tudo o que escrevi para
teatro, é no momento o que me parece mais difícil de ser aceito.” (CARDOSO,
1970:107)
Apesar dessa determinação, pressionado por dívidas, ele volta aos
palcos com Angélica e restaura o “Teatro de Câmera”. Não é uma volta
espontânea, nem mesmo foi feliz. No registro do Diário de 09 de outubro de
1950, revela: “Não encontro nenhum prazer nesta forma de trabalho, mas sou
obrigado a isto, em vista dos compromissos que assumi com o S.N.T [Serviço
Nacional do Teatro]...”(CARDOSO, 1970: 120).
Não foi também um retorno fácil. Lúcio resolveu dirigir pessoalmente sua
criação e Claude Vincent, em “Angélica”, informa que a peça “foi cortada e
modificada” porque Lúcio teria aprendido (finalmente!) que “há muita coisa
possível em um texto, mas não num palco”. Num artigo posterior, “Angélica II” 61
61 Ambos os artigos citados foram publicados na “Tribuna da Imprensa”, sem indicação de data, e que
fazem parte do Arquivo do Autor disponível na Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.