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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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critérios nas relações <strong>de</strong> dominação” (MOTA, 2002:61). Essa tradição 1 ,<br />

reforça<strong>da</strong> pelas relações <strong>de</strong> grupos familiares e pelas instituições formais <strong>da</strong>s<br />

elites (partidos políticos, ensino acadêmico, clubes) foi, a partir <strong>da</strong> Revolução<br />

<strong>de</strong> 30, substituí<strong>da</strong> <strong>por</strong> novas relações basea<strong>da</strong>s no individualismo e no<br />

arrivismo num processo que, assinala Schapochnik (1998), representava<br />

socialmente a alteração <strong>da</strong>s origens <strong>da</strong> riqueza e do po<strong>de</strong>r que se processava<br />

naquele momento <strong>de</strong> transição.<br />

Por outro lado, a fim <strong>de</strong> se preservar o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s oligarquias estaduais e<br />

rurais, os primeiros tempos republicanos foram períodos que se caracterizaram<br />

pela <strong>de</strong>scentralização política (SCHAPOCHNIK, 1998). O Movimento <strong>de</strong><br />

Outubro opôs à <strong>de</strong>scentralização ain<strong>da</strong> em vigor uma centralização que<br />

culminou no Estado Novo; à economia rural, um esforço pela industrialização.<br />

A urbanização crescia acelera<strong>da</strong>mente e os trabalhadores urbanos foram<br />

contemplados com as leis trabalhistas.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se to<strong>da</strong>s essas transformações, é possível visualizar que<br />

este era um tempo <strong>de</strong> crise. Os valores foram postos em xeque, tornaram-se<br />

incoerentes e estavam em transição: a nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senhava não<br />

cabia nas visões que anteriormente explicavam e justificavam a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

indivíduo, frente a um mundo em rápi<strong>da</strong> transformação, não raro lhe parecendo<br />

caótico, experimentava como precária a sua posição nos novos dias. Foram<br />

anos <strong>de</strong> intensa fermentação i<strong>de</strong>ológica, social, religiosa visível nas<br />

1 <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> conheceu essa situação pessoalmente. Em seu livro Por on<strong>de</strong> andou meu coração, sua<br />

irmã Maria Helena conta: “Curvelo se dividia em duas famílias: Vianna e Mascarenhas. Os que não eram<br />

seus membros, a elas se ligavam pelo casamento ou pela amiza<strong>de</strong>, quaisquer <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> relações,<br />

excluindo automaticamente qualquer ligação mais profun<strong>da</strong> com a outra. Da mesma forma, a política<br />

local compunha-se <strong>de</strong> dois únicos partidos: Mascarenhistas e Viannistas, que há anos lutavam pelo<br />

domínio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Odiavam-se mutuamente (...). A separação na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local era completa: na igreja,<br />

nas festas, em tudo. (...)<br />

(...) Os Mascarenhas eram gente boa, honra<strong>da</strong>, <strong>de</strong> coração largo, a sua cari<strong>da</strong><strong>de</strong> famosa entre a gente<br />

pobre. Possuidores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, casavam-se entre si para evitar que o dinheiro se espalhasse em<br />

mãos estranhas. Ao contrário dos Mascarenhas, os Viannas eram pobres, seus antepassados tendo perdido<br />

quase to<strong>da</strong> a fortuna que possuíam. Em matéria <strong>de</strong> inteligência e espírito, <strong>por</strong>ém, eram bem providos.<br />

Inteligentes, vivos, críticos, não perdoavam aos adversários a sua simplici<strong>da</strong><strong>de</strong>, glosando-os<br />

impiedosamente no seu jornal, O Curvelano.<br />

Ambas eram famílias dignas, honra<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> tradição, vincula<strong>da</strong>s àquela terra há longos anos.”<br />

(CARDOSO,:1967: 59-60)<br />

Na obra <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong>, é fácil encontrar remanescentes <strong>de</strong> oligarquias <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes como em O <strong>de</strong>sconhecido,<br />

<strong>de</strong> 1940 e Crônica <strong>da</strong> Casa Assassina<strong>da</strong>, <strong>de</strong> 1959 ou, como veremos, em Angélica, encena<strong>da</strong> em 1950.<br />

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