13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

132<br />

É visível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros diálogos, a ironia <strong>de</strong> que a peça se recobre.<br />

Angélica expressa arrogância e mal<strong>da</strong><strong>de</strong>, duvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong>spreza os<br />

vizinhos, preocupando-se, apenas, com o que possam dizer <strong>de</strong>la. Carelli<br />

assinala que as visitas “<strong>de</strong>sempenham aqui, <strong>de</strong> modo caricatural, o papel do<br />

coro antigo” (CARELLI, 1988: 96), funcionando não como “testemunha,<br />

confi<strong>de</strong>nte, espectador i<strong>de</strong>al, conselheiro, associado na dor, juiz, intérprete<br />

lírico do poeta, eco <strong>da</strong> sabedoria popular...”, que era a função original do coro<br />

(BRANDÃO, 1992:51), mas como cúmplice que legitima, pelo louvor à<br />

cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, as práticas diabólicas <strong>de</strong> Angélica.<br />

Leôncio, “um homem baixo, gordo <strong>de</strong> aspecto melífluo e sentimentos<br />

concentrados” (CARDOSO, s/d:9), é o empregado <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>. Ele entra em<br />

cena trazendo um pacote <strong>de</strong> velas e ela lhe pe<strong>de</strong> que vá ao orfanato e traga<br />

outra moça, <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>, bonita, frágil, <strong>de</strong> quem possa cui<strong>da</strong>r. Ele fala <strong>de</strong> outra<br />

jovem, que tem família, mas que é muito pobre e que an<strong>da</strong> triste <strong>por</strong> causa <strong>de</strong><br />

uma briga com o namorado. Ao saber <strong>da</strong> tristeza, ela se preocupa<br />

ANGÉLICA: (<strong>de</strong>tendo-se, ar<strong>de</strong>nte) É (sic) ela per<strong>de</strong>u to<strong>da</strong> a beleza?<br />

Tornou-se uma coisa imprestável, um triste ser que <strong>de</strong>finha?<br />

(CARDOSO, s/d:12)<br />

Como Leôncio assegure que ela “parece mais bela, um lírio molhado sob<br />

a chuva” (CARDOSO, s/d:13), Angélica se interessa e man<strong>da</strong> que ele a traga.<br />

Joana volta ao palco trazendo flores e Angélica quer saber o que<br />

comentam sobre ela. Depois, torna a preocupar-se:<br />

ANGÉLICA: Talvez venha mais gente, o melhor será vestir-me.<br />

JOANA: A patroa está bem assim. Este chale (sic) é tão bonito!<br />

ANGÉLICA: Não, não estou bem. Quero o meu vestido ver<strong>de</strong>, com<br />

ren<strong>da</strong>s escuras. Procure para mim, Joana, está no guar<strong>da</strong>-roupa.<br />

JOANA: Não seria melhor um vestido mais simples?<br />

ANGÉLICA: Não, quero este mesmo. Procure também as minhas<br />

ren<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Malines, aquelas que só uso em ocasiões solenes. Quero<br />

também um véu para os cabelos...<br />

JOANA: Até parece que a patroa vai a uma festa. (CARDOSO,<br />

s/d:15)<br />

Joana a repreen<strong>de</strong>, discretamente, <strong>por</strong> viver isola<strong>da</strong> e <strong>por</strong> negar-se a<br />

conviver com as pessoas. Para esta protagonista, ao contrário <strong>da</strong>s que a<br />

anteceram, a <strong>clausura</strong> é uma opção voluntária. A patroa informa que, no dia

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!