13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

estampa no discurso religioso às avessas que ela faz. Ao lado <strong>da</strong> ironia,<br />

convivem clichês (“Serei para ela uma segun<strong>da</strong> mãe...”; “Mas como parece<br />

mais bela, um lírio molhado sob a chuva”; “Oh, então foi para isso que eu<br />

alimentei estas víboras junto ao coração”...) que, como linguagem já esvazia<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> sentido, reforçam a característica <strong>de</strong> um universo em <strong>de</strong>cadência<br />

mimetizado nos cenários.<br />

154<br />

Há também claros resquícios <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntistas presentes na <strong>de</strong>scrição do<br />

espaço, nas aproximações intertextuais com Drácula e O Retrato <strong>de</strong> Dorian<br />

Gray, no gosto <strong>da</strong> protagonista pelo ócio e pelo <strong>da</strong>ndismo. Segundo<br />

Bau<strong>de</strong>laire, citado <strong>por</strong> Rosa e Silva, o <strong>da</strong>ndismo é um fenômeno típico <strong>da</strong>s<br />

épocas <strong>de</strong> transição “em que a <strong>de</strong>mocracia não se tornou ain<strong>da</strong> todo-po<strong>de</strong>rosa,<br />

em que a aristocracia está apenas parcialmente claudicante e vilipendia<strong>da</strong>.” 79<br />

E, diferente dos outros dramas, sua protagonista não se rebela contra<br />

ninguém: ao contrário, é ela quem enfrenta as oposições <strong>da</strong> jovem recém-<br />

adota<strong>da</strong> e <strong>de</strong> seu empregado. Ela é filha <strong>de</strong> família tradicional e é a dona <strong>da</strong><br />

casa on<strong>de</strong> o drama se <strong>de</strong>senrola. Representa, <strong>por</strong>tanto, a tradição e a<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> rural, já em crise naqueles anos. Lembrando o que já foi dito sobre<br />

Drácula, (que ele é um sobrevivente do antigo regime que tenta sobreviver à<br />

nova or<strong>de</strong>m mundial configura<strong>da</strong> na vira<strong>da</strong> do século), Angélica representaria a<br />

<strong>de</strong>rroca<strong>da</strong> <strong>de</strong> certa tradição, <strong>da</strong> nobreza <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s províncias e ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

estreitas e abafa<strong>da</strong>s, sem que, contudo, isso sinalize um horizonte <strong>de</strong><br />

esperança e autonomia para as Lídias, suas vítimas. Angélica e sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

beleza e juventu<strong>de</strong> wil<strong>de</strong>anos expõem a face <strong>de</strong>moníaca <strong>da</strong>s estruturas<br />

ultrapassa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um Brasil que, em 1950, talvez já fosse consi<strong>de</strong>rado arcaico,<br />

mas que insistia em sobreviver.<br />

79 ROSA E SILVA, 1994: 49.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!