13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O primeiro <strong>de</strong>sses pontos é a colocação <strong>da</strong> discussão <strong>de</strong> um<br />

problema – social ou moral (...) – que já aparece anunciado em<br />

pequenos prefácios que indicam a intenção dos autores <strong>de</strong> garantir a<br />

leitura o mais inequívoca possível.<br />

Reforça isso um segundo ponto <strong>de</strong> contato im<strong>por</strong>tante entre os livros,<br />

que é a <strong>de</strong>limitação clara <strong>de</strong>sses problemas, discutidos através <strong>da</strong><br />

criação <strong>de</strong> personagens que vivem um tipo <strong>de</strong> transição específica<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Ou seja, mesmo o mais introspectivo dos<br />

romances não abre mão <strong>de</strong> colocar as gran<strong>de</strong>s questões <strong>da</strong><br />

existência e <strong>da</strong> espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong> humana no momento presente, numa<br />

situação histórica visível. (...)<br />

Um último aspecto (...) é o fato <strong>de</strong> eles registrarem, em todos os<br />

níveis <strong>de</strong> sua composição, um clima <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong> que leva a um<br />

impasse sem solução. (BUENO, 2001:121-122)<br />

A questão do impasse e <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong> é fun<strong>da</strong>mental nesse momento. Os<br />

escritores, imersos na transição que a mo<strong>de</strong>rnização implementava no país,<br />

constatavam os problemas, <strong>de</strong>fendiam soluções, mas não vislumbravam<br />

vitórias. O herói, como já se afirmou, encarnava algum aspecto do atraso, mas<br />

não conseguia promover ações para transformar essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> negativa.<br />

Pense-se, <strong>por</strong> exemplo, em Paulo Honório (São Bernardo), Luís <strong>da</strong> Silva<br />

(Angústia), Joaquim (Maleita), Conceição (O Quinze) ou I<strong>da</strong> (Mãos vazias): no<br />

final, todos os protagonistas constatam sua <strong>de</strong>rrota no mundo que os circun<strong>da</strong><br />

e ao qual não se a<strong>da</strong>ptam, mas a superação do impasse não é assunto do<br />

romance e fica adia<strong>da</strong> para um futuro que não se contará nunca.<br />

Daí a figura marcante do romance <strong>de</strong> 30 ser, na alenta<strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong><br />

Bueno (2001) e retomando observações <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, a figura do<br />

fracassado 4 , cuja representação incor<strong>por</strong>ou <strong>de</strong>finitivamente as figuras<br />

marginais à Literatura Brasileira. Entre os “fracassados”, ou melhor, entre<br />

essas representações literárias dos impasses <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rnização, Bueno cita a<br />

mulher <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>, <strong>de</strong> Rachel <strong>de</strong> Queiroz e <strong>de</strong> Lúcia Miguel Pereira, as<br />

quais analisa <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente; e ain<strong>da</strong> acrescenta o <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> José Lins do Rego; o intelectual “fora <strong>de</strong> foco” <strong>de</strong> Graciliano Ramos; o<br />

operário. Todos eles revelam “aquela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar e enten<strong>de</strong>r um<br />

presente com poucas promessas <strong>de</strong> esperança, dominado pela dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

pela in<strong>de</strong>finição, <strong>de</strong>ixando entrever que a alegria só po<strong>de</strong>ria ser possível <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> um longo caminho, ain<strong>da</strong> <strong>por</strong> trilhar” (2001:429).<br />

4 Cf: BUENO, 2001: 84-93.<br />

19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!