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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Sentados, os cunhados conversam. Marcos reafirma o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> partir,<br />

que Lisa acha irrealizável. Para isso é preciso ter recursos – e você não tem.<br />

De que iria viver? (CARDOSO, 1973:41). Uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> prosaica<br />

(<strong>de</strong>saparecerei para nunca mais voltar, mu<strong>da</strong>rei até <strong>de</strong> nome), mas um<br />

argumento sensato e, para Marcos, ele seria um obstáculo consi<strong>de</strong>rável, já que<br />

era Augusta quem gerenciava os bens e, segundo ela, a família estava<br />

passando <strong>por</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras. A esse argumento, Lisa junta o afeto.<br />

Afirma precisar que fique para que ela consiga continuar vivendo, pe<strong>de</strong> que<br />

não a abandone. Marcos retruca que não tem motivação para continuar, que<br />

na<strong>da</strong> o pren<strong>de</strong> à vi<strong>da</strong>. Ofendi<strong>da</strong>, a mulher cobra que ele não traia as<br />

esperanças que acordou nela. Ele se <strong>de</strong>sculpa, afirmando o que po<strong>de</strong>ria ser<br />

uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as personagens:<br />

Augusta tem razão, não sou alguém, um ser <strong>de</strong>finido, uma<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não passo <strong>de</strong> uma sombra nasci<strong>da</strong> num inferno<br />

gelado. Não vivo <strong>por</strong> sentimentos naturais, mas <strong>por</strong> emoções que já<br />

não servem para na<strong>da</strong>. (CARDOSO, 1973:43)<br />

Inconforma<strong>da</strong> com a passivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do amigo, ela relembra: Não confessou<br />

que me amava, não o disse em presença <strong>de</strong> Augusta? (CARDOSO, 1973:43) e<br />

ele reafirma amá-la como no primeiro dia, mas que, em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ela não o ama<br />

e nunca o amou:<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> eu não existo aos seus olhos. Nem mesmo isto. To<strong>da</strong> a<br />

sua alma está violentamente volta<strong>da</strong> para outra pessoa. (CARDOSO,<br />

1973:43)<br />

Marcos, então, lembra-lhe que quando teve sua “crise”, ela escutou a<br />

voz do morto e afirma: O que a morte tinha diluído – o domínio que ele<br />

mantinha sobre o seu amor – acordou <strong>de</strong> novo àqueles gritos (CARDOSO,<br />

1973:44). E que, apenas <strong>por</strong> essa razão, ela se voltara para ele. Na<br />

argumentação mais lúci<strong>da</strong> <strong>de</strong> todo o drama, lembra que a amiga nunca<br />

procurou <strong>por</strong> ele no período em que Silas já tinha morrido e ele ain<strong>da</strong> não tinha<br />

adoecido, quando já a amava. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que você só procurou em mim a<br />

sombra efêmera do outro (CARDOSO, 1973:45). Por essa razão, ele conclui<br />

que não haveria o que tentar entre eles <strong>por</strong>que tudo já estaria con<strong>de</strong>nado <strong>de</strong><br />

antemão.<br />

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