13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“são bonitos os lados do mar” <strong>por</strong>que ele pensa “que [não] exista na<strong>da</strong> mais<br />

belo do que a terra, que a nossa terra” (NASCIMENTO, 1961:32) 60 . Ele imagina<br />

que o mar seja azul, mas o Pai afirma-lhe que é ver<strong>de</strong>, que, quando jovem,<br />

caminhou três dias para vê-lo e que valeu a pena. E que não há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> contar o que viu <strong>por</strong>que “Basta fechar um pouco os olhos e escutar: tudo o<br />

que existe no mar está na voz do vento” (NASCIMENTO, 1961:32).<br />

116<br />

Ouvindo as palavras do Pai, Manassés questiona se, a <strong>de</strong>speito do bem<br />

que quer às terras <strong>da</strong> família, não seria melhor abandoná-las e partir. Surpreso<br />

com a pergunta do filho e contrariando o que dissera há poucos momentos, o<br />

Pai <strong>de</strong>clara que teria sido melhor nunca ter viajado:<br />

(...) As paisagens só servem para nos enlouquecer o pensamento.<br />

Se Deus limitou a nossa vista, foi para que olhássemos apenas a<br />

terra que <strong>de</strong>vemos cultivar – a mesma que nos dá alimento e no seio<br />

<strong>da</strong> qual <strong>de</strong>scansaremos. (NASCIMENTO, 1961: 33)<br />

E acrescenta que os filhos não <strong>de</strong>veriam se queixar <strong>por</strong>que tudo é igual<br />

“e esta é a primeira lei <strong>da</strong> sabedoria” (NASCIMENTO, 1961:33). Além do mais,<br />

eles tinham uma casa à beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>por</strong> on<strong>de</strong> passavam os peregrinos,<br />

uma varan<strong>da</strong> sobre os campos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se avistavam as montanhas e podiam<br />

cumprimentar todos os que passavam. Quando Manassés explica que é<br />

justamente o rumor <strong>da</strong>s sandálias, as sau<strong>da</strong>ções que provocam a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

o Pai respon<strong>de</strong>-lhe, enérgico que “a lei é não abandonar a casa!”<br />

(NASCIMENTO, 1961:33). Ajoelhando-se, o filho respon<strong>de</strong> que suas mãos<br />

apenas sabem trabalhar ali e que seus olhos não vêem mais que o limite <strong>de</strong><br />

suas terras.<br />

Nesse momento, chega o filho pródigo, Assur, chamado pelo Pai <strong>de</strong><br />

“fiel”. Apesar disso, ele é o filho que mais rejeita o impositivo <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar a<br />

casa. A terra, que já fora para Manassés quente e úmi<strong>da</strong> como carne <strong>de</strong><br />

recém-nascido e, <strong>de</strong>pois, dura a ponto <strong>de</strong> ferir as mãos, para ele é “terra seca e<br />

traiçoeira, envenenando lentamente o nosso sangue” (NASCIMENTO,<br />

1961:34), a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que ele o<strong>de</strong>ia. Assur contrasta em tudo com o irmão mais<br />

60 To<strong>da</strong>s as citações <strong>de</strong>ssa peça foram feitas <strong>de</strong>ssa edição, apenas atualizando a ortografia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!