Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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Prado, em sua História concisa do Teatro brasileiro (2003), vai<br />
consi<strong>de</strong>rar que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> teatral atingiu alguma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre nós no<br />
período do Romantismo, com a construção, <strong>por</strong> parte <strong>de</strong> D. João VI, <strong>de</strong> um<br />
“teatro <strong>de</strong>cente” (que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> reconstruído quatro vezes, foi enfim batizado<br />
<strong>de</strong> “Teatro João Caetano”) e pela atuação do próprio João Caetano, “talvez o<br />
maior ator que o Brasil já produziu” (PRADO, 2003:38). Seu repertório incluía<br />
tragédias clássicas francesas, dramas românticos, autores espanhóis<br />
contem<strong>por</strong>âneos e românticos <strong>por</strong>tugueses, embora o “pão <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> dia” lhe<br />
tenha sido assegurado pelo “imbatível melodrama” 12 (PRADO, 2003:38) que<br />
agra<strong>da</strong>va tanto a platéia popular quanto a letra<strong>da</strong>.<br />
Quanto às peças <strong>de</strong> caráter sério 13 , Prado consi<strong>de</strong>ra que a primeira obra<br />
brasileira digna <strong>de</strong> referência é Leonor <strong>de</strong> Mendonça, <strong>de</strong> Gonçalves Dias, “A<br />
primeira, em or<strong>de</strong>m cronológica e também em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Seu texto,<br />
“único que tem sido revivido com certa freqüência em versões mo<strong>de</strong>rnas”<br />
(PRADO, 2003:47) 14 , po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um drama. Segundo Faria (2001),<br />
seu autor:<br />
Com pleno domínio dos conceitos básicos do romantismo teatral,<br />
com<strong>por</strong>tou-se com total liber<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação às regras do<br />
classicismo, construindo uma obra <strong>dramática</strong> em que estão<br />
presentes vários aspectos formais e conteudísticos específicos do<br />
drama, tais como a força avassaladora <strong>da</strong> paixão; a matéria<br />
<strong>dramática</strong> busca<strong>da</strong> no passado, mas nas histórias nacionais e não na<br />
12 Segundo o Dicionário <strong>de</strong> Teatro, “melodrama” é “uma peça popular que, mostrando os bons e os maus<br />
em situações apavorantes ou enternecedoras, visa comover o público com pouca preocupação com o<br />
texto, mas com gran<strong>de</strong>s reforços <strong>de</strong> efeitos cênicos. (...) A estrutura narrativa é imutável: amor,<br />
infelici<strong>da</strong><strong>de</strong> causa<strong>da</strong> pelo traidor, triunfo <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>, castigos e recompensas, perseguição como ‘eixo <strong>da</strong><br />
intriga’. (...) Seu surgimento está ligado ao predomínio i<strong>de</strong>ológico <strong>da</strong> burguesia que, nos primeiros anos<br />
do século XIX, afirma sua nova força oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> Revolução, substituindo as aspirações igualitárias <strong>de</strong><br />
um povo apresentado como infantil, assexuado e excluído <strong>da</strong> história. (...) As personagens, claramente<br />
separa<strong>da</strong>s em boas e más, não têm nenhuma opção trágica possível; elas são poços <strong>de</strong> bons ou maus<br />
sentimentos, <strong>de</strong> certezas e evidências que não sofrem contradição. Seus sentimentos e discursos,<br />
exagerados até o limite do paródico, favorecem no espectador uma i<strong>de</strong>ntificação fácil e uma catarse<br />
barata. As situações são inverossímeis, mas claramente traça<strong>da</strong>s: infelici<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta ou felici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
indizível; <strong>de</strong>stino cruel que acaba ou se arranjando (no melodrama otimista) ou que permanece sombrio e<br />
tenso, como no roman noir, injustiças sociais ou recompensas feitas à virtu<strong>de</strong> e ao civismo. (...) o<br />
melodrama veicula abstrações sociais, oculta os conflitos sociais <strong>de</strong> sua época, reduz as contradições a<br />
uma atmosfera <strong>de</strong> medo ancestral ou <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> utópica.” (PAVIS, 2001:238-239)<br />
13 Assim <strong>de</strong>nomino aquelas produções que não tratam <strong>de</strong> situação ridículas, que não visam provocar o<br />
riso e a <strong>de</strong>scontração do espectador. Incluo tragédias (clássicas ou não), dramas, melodramas e similares.<br />
14 Antes <strong>de</strong>la, há, <strong>por</strong> exemplo, Antônio José, <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães ou os primeiros dramas<br />
<strong>de</strong>scabelados <strong>de</strong> Martins Pena, que não foram levados ao palco (a não ser em caráter <strong>de</strong> exceção <strong>por</strong><br />
amadores), apenas “váli<strong>da</strong>s pelo nível literário, superior ao dramatúrgico” (PRADO, 2003:45).<br />
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