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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Traz a peça alguma finali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética? Traz o diálogo alguma lição,<br />

algum contingente emocional renovador, algo que nos ensine, que<br />

nos critique, que nos console? Não. A peça não traz na<strong>da</strong>. Minto.<br />

Traz uma interpretação apreciável <strong>de</strong> um enredo e um texto<br />

irrepresentável.<br />

Dizem que o senhor <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> é um gran<strong>de</strong> escritor. Vox<br />

Populi... Eu não entendo <strong>de</strong> “alta” <strong>literatura</strong>. Po<strong>de</strong> ser que eu não<br />

enten<strong>da</strong> “sutilezas” d<strong>de</strong> (sic) peças tenebrosas. Po<strong>de</strong> ser...<br />

Para situar a perspectiva <strong>de</strong> on<strong>de</strong> fala o crítico, reproduzo, a seu<br />

respeito, as palavras <strong>de</strong> Décio <strong>de</strong> A. Prado na análise que tece sobre este<br />

autor e as obras <strong>de</strong> Silveira Sampaio e Abílio Pereira <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>, esclarecendo<br />

que os três eram autores <strong>de</strong> sucesso do período:<br />

“Pedro Bloch (...) foi o mais <strong>de</strong>sinibi<strong>da</strong>mente comercial dos três, não<br />

tanto <strong>por</strong> amor à bilheteria (...), mas <strong>por</strong>que os seus limites, como<br />

pensador e como especialista em teatro, coincidiam exatamente com<br />

os do gran<strong>de</strong> público. Ele nunca hesitou em com<strong>por</strong> peças sob<br />

medi<strong>da</strong> para <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (Dona Xepa, para Aldo<br />

Garrido, em 1952) ou em imaginar situações carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

melodramatici<strong>da</strong><strong>de</strong>...” (PRADO, 2003, 56).<br />

Como se po<strong>de</strong> observar, as visões <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> Pedro Bloch e <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong><br />

<strong>Cardoso</strong> sobre arte literária e sobre o teatro guar<strong>da</strong>vam distâncias oceânicas.<br />

Basta notar que o questionamento Traz o diálogo alguma lição, algum<br />

contingente emocional renovador, algo que nos ensine, que nos critique, que<br />

nos console? remete ao comprometimento do teatro realista <strong>de</strong> criar peças com<br />

imediata feição moralizante. 33 Na<strong>da</strong> mais distante dos propósitos cardosianos e<br />

mesmo do projeto <strong>de</strong> “Os Comediantes”.<br />

Distanciado no tempo, escrevendo em 09 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1950 um artigo<br />

que, posteriormente, seria resumido e incluído em sua obra Panorama do<br />

Teatro Brasileiro, Sábato Magaldi consegue fazer uma análise mais<br />

<strong>de</strong>sapaixona<strong>da</strong> do drama cardosiano. Explicando que só conhece O Escravo<br />

através <strong>da</strong> leitura, <strong>por</strong>que não pô<strong>de</strong> assistir à sua apresentação, afirma que o<br />

texto <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> “se apresentava como a primeira tentativa <strong>de</strong> renovação dos<br />

nossos processos dramáticos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> espírito sério que então presidiria as<br />

33 Quanto ao teatro realista, especifica Roubine: “Trata-se <strong>de</strong> um teatro-espelho, ou suposto como tal. Sua<br />

base teórica é dupla. O palco, acredita-se, se empenha em <strong>de</strong>volver para a platéia uma imagem<br />

‘semelhante’ <strong>de</strong> si própria. Ao mesmo tempo, veicula uma ‘moral’, ‘diretrizes’ que preten<strong>de</strong>m assegurar a<br />

gestão harmoniosa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana e <strong>de</strong> seus inevitáveis conflitos.” (ROUBINE, 2003: 110) Cf. também<br />

segmento 2.2 <strong>de</strong>sta Tese.<br />

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