Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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uma coluna que escrevia. Intitula<strong>da</strong> “Diário Não-Íntimo”, foi publica<strong>da</strong> em um<br />
jornal cujo nome não aparece e <strong>por</strong> um período que não é possível <strong>de</strong>terminar,<br />
já que os artigos não trazem qualquer notação a esse respeito. To<strong>da</strong>via, pelos<br />
comentários que saú<strong>da</strong>m entusiasticamente o lançamento <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> sertão:<br />
vere<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> Guimarães Rosa, e <strong>por</strong> referências à última peça <strong>de</strong> O’Neill, Longa<br />
jorna<strong>da</strong> noite a<strong>de</strong>ntro, <strong>de</strong>duzo que os textos foram escritos <strong>por</strong> volta <strong>de</strong> 1956.<br />
No artigo arquivado sob o número 27, <strong>Lúcio</strong> anota:<br />
Em São Paulo, o crítico Sábato Magaldi proclama que Pedro Bloch e<br />
Paulo <strong>de</strong> Magalhães são nocivos ao teatro brasileiro. Menos do que<br />
nomes, acredito que um <strong>de</strong>terminado gênero é nocivo ao no bomgosto<br />
teatral. Mas isso não é questão <strong>de</strong> autores, e sim <strong>de</strong> público.<br />
Se alguém prefere marmela<strong>da</strong>, que adianta querer lhe impingir<br />
“Charlotte russo”?<br />
Para exemplificar sua idéia, cita o gran<strong>de</strong> sucesso <strong>da</strong> apresentação <strong>de</strong><br />
Casa <strong>de</strong> chá do luar <strong>de</strong> agosto, uma comédia <strong>de</strong> John Patrick que estava<br />
“batendo todos os recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bilheteria. E, no entanto, afirma o Autor, já<br />
Manuel Ban<strong>de</strong>ira havia chamado a atenção para essas japonizices sem<br />
honesti<strong>da</strong><strong>de</strong> feitas unicamente com fito <strong>de</strong> agra<strong>da</strong>r ao gosto do público vulgar.”<br />
Também comenta, no mesmo artigo, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Sérgio <strong>Cardoso</strong> <strong>de</strong><br />
interpretar Cyrano <strong>de</strong> Bergerac, <strong>de</strong> Rostand, em São Paulo. Reconhece que se<br />
trata <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> autor e que o papel necessita <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> talento para<br />
erguer-se. “Mas em que ouvidos doerão a afirmativa <strong>de</strong> que é uma peça cacete<br />
e fraca, que nenhum escritor responsável terá coragem <strong>de</strong> citar sem as <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s<br />
cautelas?”<br />
No mesmo tom, investe contra o teatro realista comentando que to<strong>da</strong><br />
atriz que se preza, em <strong>de</strong>terminado momento <strong>da</strong> carreira, <strong>de</strong>seja representar A<br />
<strong>da</strong>ma <strong>da</strong>s camélias. “Mas quem terá coragem para negar que A <strong>da</strong>ma <strong>da</strong>s<br />
camélias é uma história absur<strong>da</strong> e <strong>de</strong> interesse literário mais do que<br />
secundário?”<br />
Assim <strong>Lúcio</strong> avaliava dois marcos do teatro tradicional. E, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />
seu conhecimento <strong>de</strong> autores contem<strong>por</strong>âneos, nem sempre ele avaliou<br />
corretamente o que testemunhava. No mesmo artigo que venho citando, lê-se:<br />
nem a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação. Os que se po<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ntificar encontram-se citados na bibliografia constante<br />
no final <strong>de</strong>sse estudo.<br />
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