Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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Santa Rosa, mas critica a direção <strong>de</strong> Abdias Nascimento, afirmando que falta<br />
um diretor cênico no “Teatro Experimental do Negro”. Também faz restrições<br />
ao tema <strong>de</strong>senvolvido <strong>por</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> e termina fazendo uma ressalva à<br />
escolha e ao encaminhamento que a Companhia estaria <strong>da</strong>ndo ao seu<br />
repertório (que já incluíra peças <strong>de</strong> O’Neill e Shakespeare): “Cumpre aos seus<br />
dirigentes melhor escolher o repertório e não falar através <strong>de</strong> personagens,<br />
num país on<strong>de</strong>, graças a Deus, a não ser para meia dúzia <strong>de</strong> retar<strong>da</strong>dos<br />
mentais, não existem diferenças raciais”.<br />
113<br />
Embora o texto <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong>, como se verá, não se concentre exatamente<br />
na questão do preconceito <strong>de</strong> raça, as opiniões do crítico quanto ao racismo no<br />
Brasil e à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do repertório escolhido pela Companhia <strong>de</strong>monstram, no<br />
mínimo, ignorância.<br />
A.C., em “O Filho Pródigo no Ginástico”, faz uma apreciação mais<br />
favorável do drama. Comenta que a peça não parece ajustar-se bem à uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> tempo, ação e espaço “<strong>da</strong>do o impulso íntimo <strong>da</strong>s personagens pelo<br />
<strong>de</strong>sconhecido, pelo abstrato”. Contrariando as restrições à linguagem feitas <strong>por</strong><br />
Brandão, para ele, a peça apresenta-se<br />
<strong>de</strong>spoja<strong>da</strong> <strong>de</strong> excessivas arranca<strong>da</strong>s líricas ou romanescas, com boa<br />
dose <strong>de</strong> ação <strong>dramática</strong>, dialogação penetrante, às vezes repleta <strong>de</strong><br />
sentimento poético, <strong>de</strong> exaltação mística ou <strong>de</strong> linguajar fora <strong>de</strong><br />
qualquer artifício como é natural entre seres humanos (...) tão justo<br />
equilíbrio na apresentação dos caracteres, regula<strong>da</strong> concentração no<br />
domínio <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> humana sobre a fatali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s paixões que não<br />
será exagero consi<strong>de</strong>rá-la uma tragédia mo<strong>de</strong>rna... 58<br />
Ou seja, sob seu ponto-<strong>de</strong>-vista, <strong>Lúcio</strong>, na tentativa <strong>de</strong> recriar uma<br />
tragédia, teria conseguido superar as <strong>de</strong>ficiências tantas vezes aponta<strong>da</strong>s em<br />
relação à “falta <strong>de</strong> ação” <strong>de</strong> suas peça ou à “ina<strong>de</strong>quação <strong>da</strong> linguagem”.<br />
Observe-se que ain<strong>da</strong> é a tentativa <strong>de</strong> “encaixar” a criação cardosiana <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> parâmetros tradicionais nos quais, certamente, ela não cabe. A restrição do<br />
crítico quanto à uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo, ação e espaço, <strong>por</strong> exemplo, está em<br />
sintonia com essa perspectiva <strong>de</strong> que a peça seria uma tragédia, o que não foi<br />
a intenção do Autor (que a classificou como drama).<br />
58 Artigo obtido no Arquivo do Autor na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.