Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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ain<strong>da</strong> a gran<strong>de</strong> presença nos palcos brasileiros, 17 “já não satisfaziam as<br />
exigências morais e artísticas nasci<strong>da</strong>s com a Revolução” (PRADO, 2003:14)<br />
li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>por</strong> Getúlio Vargas. As transformações <strong>por</strong> que vinham passando as<br />
Artes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1922 reclamavam seu espaço também nos palcos.<br />
Para Magaldi, antes dos anos <strong>de</strong> 1930, a iniciativa <strong>de</strong> Eugênia e Álvaro<br />
Moreyra <strong>de</strong> criar o “Teatro <strong>de</strong> Brinquedo”, em 1927, “Alcançou um sentido <strong>de</strong><br />
atualização estética mais próxima dos cânones proclamados pelo mo<strong>de</strong>rnismo”<br />
(MAGALDI, 1997:198). Moreyra foi autor <strong>de</strong> Adão, Eva e outros membros <strong>da</strong><br />
família... que trata <strong>de</strong> um triângulo amoroso entre as personagens Mulher, Um<br />
e Outro. Enquanto as peças se ocupavam <strong>da</strong>s famílias cariocas com seus<br />
namoros e adultérios, Adão... abre a cena com uma prostituta que, trabalhando<br />
tar<strong>de</strong> <strong>da</strong> noite, encontra-se com Outro num banco <strong>de</strong> jardim. Sua experiência<br />
lhe diz que um homem nessas circunstâncias ou é policial ou traficante – e,<br />
nesse caso, ela quer que ele lhe ven<strong>da</strong> “poeira” ou “Cristina”, gírias <strong>da</strong> época<br />
para cocaína. No mesmo cenário, Outro encontra Um e se apresentam,<br />
respectivamente, como ladrão e mendigo estabelecendo uma relação cordial:<br />
UM: Um homem que rouba nunca incomo<strong>da</strong> um homem que pe<strong>de</strong>. O<br />
mendigo é a paródia inocente do ladrão. O ladrão é um mendigo<br />
vaidoso. Entre nós não surgirão rivali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O senhor tem coragem,<br />
arrisca-se. Eu tenho filosofia, estendo a mão. Sou mais comodista. O<br />
senhor conta, no meio dos ancestrais, Alexandre, Napoleão. Eu<br />
<strong>de</strong>scendo humil<strong>de</strong>mente <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Assis. (MOREYRA,<br />
1929: 29)<br />
A tría<strong>de</strong> <strong>de</strong> protagonistas marca uma diferença no teatro <strong>da</strong> época:<br />
afinal, a presença <strong>de</strong> uma prostituta ou <strong>de</strong> um mendigo em cena já não servia<br />
para “personalizar o ridículo, mas para contestar certos aspectos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”<br />
(CAFEZEIRO, 1996:431).<br />
No segundo ato, a Mulher torna-se atriz, Outro vira dono <strong>de</strong> jornal e Um<br />
agora é dono <strong>de</strong> uma firma <strong>de</strong> informações falsas, o que o faz um “capitalista”.<br />
Cresce, nesse ato, o número <strong>de</strong> personagens que, seguindo o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
17 Ban<strong>de</strong>ira Duarte, em “Efeméri<strong>de</strong>s do teatro carioca” citado na Bibliografia <strong>de</strong>sta Tese, lista estréias<br />
que, só pelo título, já indiciam quais eram, ain<strong>da</strong>, os gran<strong>de</strong>s espetáculos para o público: “Ai, Seu Melo”,<br />
revista que estreou no Teatro Centenário, com direção <strong>de</strong> Oduvaldo Viana e Viriato Correia em 17/03/22;<br />
“Feitiço”, <strong>de</strong> Oduvaldo Viana, que esteve nos palcos do Teatro Alambra em 09/08/32; “Coisinha boa”,<br />
também <strong>de</strong> Viriato Correia, esteve nos palcos do Teatrinho Meu Brasil em 24/08/34 e, já em 1949, ain<strong>da</strong><br />
há o registro <strong>da</strong> revista “Já vi tudo” no Teatro Follies, <strong>de</strong> Maria Irmã Daniel e Juan Daniel.<br />
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