13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

146<br />

<strong>de</strong>mais para que o espaço temático não sofra <strong>da</strong>nos. Esse<br />

salvamento do estilo dramático só po<strong>de</strong> obter justificação artística se<br />

consegue <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> sua artificiali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (SZONDI, 2001:117)<br />

Essa foi a saí<strong>da</strong> tenta<strong>da</strong> <strong>por</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> e, embora a Crítica <strong>da</strong> época<br />

não tenha conseguido precisar, boa parte <strong>de</strong> seus problemas <strong>de</strong>rivou <strong>de</strong>sta<br />

opção que <strong>da</strong>va um tom artificial às situações leva<strong>da</strong>s à cena. Em O Escravo,<br />

não há fato que justifique a <strong>clausura</strong> voluntária <strong>da</strong>quela família, bem como não<br />

há explicação plausível para o confinamento <strong>de</strong> Gina ou para o isolamento <strong>da</strong><br />

família <strong>de</strong> O Filho Pródigo. Apenas em Angélica, essa estratégia pareceu<br />

natural <strong>por</strong>que o caráter <strong>da</strong> protagonista justificava sua opção em manter-se<br />

distante <strong>da</strong>s pessoas ocultando seu vampirismo e viabilizando sua ação<br />

pre<strong>da</strong>tória.<br />

É notável o fato <strong>de</strong> que, ao criar essas situações, <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> repetiu<br />

nos palcos a condição que já se conhecia <strong>de</strong> seus romances e que foi reitera<strong>da</strong><br />

nas novelas, contem<strong>por</strong>âneas <strong>de</strong> sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dramatúrgica.<br />

A “<strong>clausura</strong>” é uma situação em que se verifica a oposição do indivíduo à<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Portanto, não po<strong>de</strong> existir no vazio: sua configuração <strong>de</strong>ixa implícita<br />

a idéia <strong>de</strong> um mundo do qual a personagem <strong>de</strong>seja se afastar. E, conforme<br />

analisa Schwarz 72 , esse afastamento <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado sob dois aspectos:<br />

objetivamente, como recusa <strong>de</strong> um mundo <strong>de</strong>terminado, para o qual a<br />

personagem se fecha; e, subjetivamente, na intenção que ela <strong>de</strong>clara. Dessa<br />

forma, o sentido <strong>da</strong> <strong>clausura</strong> po<strong>de</strong> residir tanto no que a criatura nega, pelo<br />

afastamento, quanto no que afirma.<br />

Se, na configuração do mundo on<strong>de</strong> a personagem se movimenta, os<br />

motivos <strong>da</strong> sua <strong>clausura</strong> forem significativos para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que vive, sua<br />

posição indicia uma contradição <strong>de</strong>sta socie<strong>da</strong><strong>de</strong> representa<strong>da</strong> e seu<br />

com<strong>por</strong>tamento ganha vali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele expõe uma contradição real e é uma<br />

posição que po<strong>de</strong>ria ser adota<strong>da</strong> <strong>por</strong> outros homens.<br />

Mas se, ao contrário, a personagem aparece sozinha e cega em suas<br />

convicções, sem um universo social que justifique seu afastamento, sua solidão<br />

a fará parecer um ser extraviado que apenas <strong>de</strong>veria ser reconduzi<strong>da</strong> à<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sua <strong>clausura</strong> aparecerá como uma insensatez individual e não dirá<br />

72 Cf: SCHWARZ, 2001:109-131.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!