Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

6- Fora de cena, outras vozes encenam
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Mas não é de repetições que se compõe a verdade
de cada um, como as notas destacadas, incisivas,
da mesma extensa e amargurada melodia?
Lúcio Cardoso, Diário Completo
Qualquer leitor que estivesse minimamente familiarizado com o universo
romanesco cardosiano e percorresse essas últimas páginas com a
apresentação e avaliação de seus dramas teria, inevitavelmente, uma
sensação de déjà vu. Diante dessas criaturas, das situações encenadas e das
próprias falas, inevitavelmente vêm à lembrança outras tantas criaturas,
situações semelhantes, falas próximas.
No encontro com O Escravo, por exemplo. A indicação da rubrica de que
o cenário deve retratar “uma casa velha, com indícios de ruína econômica,
localizada numa miserável aldeia” traz à memória, quase imediatamente, a
casa de Pedro e Madalena (A Luz no Subsolo) ou a Fazenda Cata-Ventos,
cenário de O Desconhecido ou a Chácara assassinada da família Meneses:
... sei hoje que a construção, e mais que isto, a manutenção desta
Chácara, equivale a uma despesa inútil e poderia ser poupada, se
não achassem todos que abandonar Vila Velha, e esta mansão
dispendiosa, fosse um definitivo ato de descrédito para a família. (...)
teria sido melhor contemporizar com a situação, remodelando
apenas a casa que hoje apodrece no contraforte da serra.
(CARDOSO, 1991:35)
Mesmo quando os enredos cardosianos têm, como espaço, a cidade, a
morada das personagens evoca a mesma ambiência decadente de seus
romances da província. É, por exemplo, o caso do cenário de O Anfiteatro:
Não sei se já expliquei que morávamos naquela época num velho
casarão da Gávea. O prédio era realmente tão grande e instalado em
tão vasto centro de terreno que mais se assemelhava a uma quinta.
E, como o grande portão colonial fosse ladeado por duas colunas e
essas colunas encimadas por leões, chamavam-na a Quinta dos
Leões, título que fazia a felicidade de meu pai e de minha tia, ambos
muito ciosos de títulos e coisas de fidalguia. (CARDOSO, 1968:125)
Ainda neste primeiro drama, quando Isabel, a irmã mais nova, entra em
cena e a rubrica especifica que ela que se veste com roupas fora de uso e tem
o aspecto doentio, é fácil lembrar uma das primeiras descrições de Ana