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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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na<strong>da</strong> sobre o mundo à sua volta. Exatamente nisso, falha o teatro cardosiano:<br />

falta aos seus dramas o horizonte social no qual as personagens se<br />

movimentam e contra o qual se opõem.<br />

147<br />

É <strong>por</strong> isso que a novela Mãos Vazias, <strong>por</strong> exemplo, embora tenha o<br />

mesmo tema <strong>de</strong> A Cor<strong>da</strong> <strong>de</strong> Prata – a insatisfação <strong>da</strong> protagonista com o papel<br />

social que lhe cabe – tem uma realização literária muito superior ao do drama.<br />

Bueno chega a consi<strong>de</strong>rá-la “A mais complexa história sobre uma mulher<br />

escrita <strong>por</strong> um homem nos anos 30” (2001:422). A narrativa, que dura cerca <strong>de</strong><br />

um dia, acompanha a trajetória <strong>de</strong> I<strong>da</strong> pela pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> mora com o<br />

marido enquanto avalia sua vi<strong>da</strong> interior.<br />

Tal como Gina, I<strong>da</strong> é uma mulher insatisfeita no casamento e que não se<br />

conforma com seu papel social <strong>de</strong> “mulher nasci<strong>da</strong> para o amor”. Como ela,<br />

seu com<strong>por</strong>tamento diferente também levantou suspeitas no lugar on<strong>de</strong> vivia e<br />

as <strong>de</strong>sconfianças também estiveram presentes quando ia se casar:<br />

“Tinham dito a Felipe que não se casasse, era ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que não<br />

podiam mostrar nenhum fato escabroso na sua vi<strong>da</strong>, mas quem se<br />

enganava com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que a habitava e que parecia <strong>de</strong>nunciá-la<br />

entre as outras. Ela era uma <strong>de</strong>ssas mulheres que trazem no rosto o<br />

seu <strong>de</strong>stino.” (CARDOSO, 1968:50)<br />

Quando a história se inicia, o filho único <strong>da</strong> protagonista acaba <strong>de</strong> morrer<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito sofrimento causado <strong>por</strong> uma longa doença. Seu marido, um<br />

tanto teatralmente, manifesta sua dor e ela, exausta pelos dias ao lado <strong>da</strong><br />

criança, <strong>de</strong>smaia e só volta a si <strong>de</strong>pois que o enterro já aconteceu. Desperta,<br />

vê, no quarto, o médico que cui<strong>da</strong>ra do filho e se entrega a ele.<br />

“Ao amanhecer, quando o médico já tinha partido, ela sentiu que<br />

esses acontecimentos <strong>de</strong>slizavam tranqüilamente para a sombra.<br />

Nenhum <strong>de</strong>les <strong>de</strong>ixava a mais leve marca em sua consciência.”<br />

(CARDOSO, 1968:26)<br />

Começa então a caminha<strong>da</strong> <strong>de</strong> I<strong>da</strong>. Será uma viagem física já que,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> relatar tudo ao marido, ela <strong>de</strong>ixa a casa, e psíquica, <strong>por</strong>que ela<br />

buscará compreen<strong>de</strong>r as razões <strong>de</strong> seu com<strong>por</strong>tamento. A resposta mais<br />

óbvia, que caracterizaria apenas um com<strong>por</strong>tamento leviano e integraria

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