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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Isso explica, formalmente, a “sensação” que um estudioso tem quando<br />

se <strong>de</strong>bruça sobre a produção <strong>dramática</strong> <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> e a coteja com seus<br />

romances e novelas: o Autor mineiro era, essencialmente, um romancista e<br />

foram procedimentos épicos que contaminaram sua cena <strong>dramática</strong> para que<br />

ele pu<strong>de</strong>sse levar ao palco o <strong>de</strong>svelamento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psíquica <strong>de</strong> suas<br />

personagens tal como seu i<strong>de</strong>al o concebia 74 . Por isso, como se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r <strong>da</strong> comparação entre Mãos vazias e A Cor<strong>da</strong> <strong>de</strong> Prata, a<br />

representação <strong>da</strong> <strong>clausura</strong> foi muito mais bem realiza<strong>da</strong> na novela que no<br />

drama. Faltou ao seu teatro, talvez, amadurecimento que encontrasse soluções<br />

formais capazes <strong>de</strong> amparar o que sua temática gostaria <strong>de</strong> expressar, como<br />

alcançaram outros dramaturgos como Strindberg, na fase madura, com seus<br />

“dramas <strong>de</strong> estação” 75 , e Sartre, com o teatro apoiado em princípios<br />

existencialistas que se harmonizaram com a estratégia do confinamento 76 .<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração tudo o que se pontuou até o momento, penso<br />

que O Filho Pródigo foi o drama mais problemático <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>. Além dos<br />

problemas já apontados (como a tentativa <strong>de</strong> son<strong>da</strong>gem interior <strong>de</strong> muitas<br />

personagens ao mesmo tempo, a falta <strong>de</strong> justificativa para o confinamento e<br />

um horizonte social timi<strong>da</strong>mente figurado), neste terceiro drama, Assur,<br />

aparentemente, volta para assumir seu lugar ao lado do Pai e para ratificar-lhe<br />

a Lei. A não ser que a apresentação se dê para um público apto a perceber,<br />

durante o espetáculo, a disfarça<strong>da</strong> ironia que perpassa O Filho Pródigo na<br />

leitura paródica que propõe do cânone bíblico 77 , a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> não estaria posta<br />

em questão, mas seria antes confirma<strong>da</strong> pela reintegração <strong>da</strong>quele que se<br />

isolara, uma vez que o drama <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado a investigação <strong>da</strong>s razões <strong>de</strong> sua<br />

74 Como se assinalou na recepção crítica <strong>de</strong> O Escravo, Magaldi intuiu esse problema ao consi<strong>de</strong>rar que<br />

suas personagens têm “dramas <strong>de</strong>masiado compactos” para serem resolvidos no palco, além <strong>de</strong> fazer<br />

restrições às constantes rememorações e referências ao passado feitas nos diálogos. Cf: segmento 4.1.1<br />

<strong>de</strong>sta Tese.<br />

75 “No ‘drama <strong>de</strong> estação’, o herói, cuja evolução se <strong>de</strong>screve, é distinguido com máxima clareza <strong>da</strong>s<br />

personagens que encontra nas estações <strong>de</strong> seu caminho. Elas só aparecem na medi<strong>da</strong> em que encontram<br />

com o protagonista na perspectiva <strong>de</strong>le e em relação com ele. E, uma vez que a base do ‘drama <strong>de</strong><br />

estação’ não é constituído (sic) <strong>por</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> personagens colocados até certo ponto no<br />

mesmo nível, mas sim <strong>por</strong> um eu central, seu espaço não é, <strong>por</strong>tanto, dialógico a priori, e inclusive o<br />

monólogo per<strong>de</strong> aqui o caráter excepcional que necessariamente possui no drama. Mas só assim a<br />

abertura ilimita<strong>da</strong> <strong>de</strong> um ‘vi<strong>da</strong> psíquica oculta’ recebe uma fun<strong>da</strong>mentação formal.” (SZONDI, 2001:60)<br />

76 Cf: SZONDI, 2001: 113-121, em especial p.118-121.<br />

77 Cf: segmento 4.4.2 <strong>de</strong>sta Tese.

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