Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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mundo muito gran<strong>de</strong>, em choque com o pequeno e bem organizado<br />
mundo dos outros, on<strong>de</strong> diferenças são loucuras, e erros, crimes<br />
imperdoáveis. (CARDOSO, 1968:145)<br />
Se Silas sempre fora, segundo Lisa, sua viúva, um menino triste, a ele<br />
juntam-se, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria produção <strong>dramática</strong>, Gina <strong>de</strong> quem “na sua terra”<br />
todos diziam que “não regulava bem”; Hil<strong>da</strong>, a professora, que “Sempre fora<br />
assim, diferente <strong>da</strong>s outras, sem gosto, sem interesse pelas coisas,<br />
distancia<strong>da</strong>, fria, antipática” (CARDOSO, 1969:285) ou, ain<strong>da</strong>, I<strong>da</strong>, a<br />
protagonista <strong>de</strong> Mãos Vazias, que: “Fora uma menina esquisita, a sua ausência<br />
<strong>de</strong> relações era nota<strong>da</strong> na pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (CARDOSO, 1969:23). E ain<strong>da</strong><br />
po<strong>de</strong>ríamos citar Pedro (A Luz no Subsolo), José Roberto (O Desconhecido) e<br />
todos os protagonistas <strong>da</strong>s obras cardosianas.<br />
E, se a forma <strong>de</strong> viver os i<strong>de</strong>ntifica, as mortes também os aproximam. A<br />
proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre I<strong>da</strong> e Silas fica implícita também na sugestão <strong>de</strong> que ele<br />
tenha cometido suicídio, que foi o mesmo caminho escolhido pela mulher para<br />
pôr fim às suas angústias. Mas a morte também é o fim <strong>de</strong> Pedro, que leva<br />
Ma<strong>da</strong>lena a envenená-lo; <strong>de</strong> Angélica que, como Marcos, atira em si mesma;<br />
<strong>de</strong> José Roberto, que morre <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assassinar Paulo...<br />
Também em O Filho Pródigo não estão ausentes as aproximações<br />
intertextuais. O anseio <strong>de</strong> Assur em partir, <strong>por</strong> exemplo, é compartilhado <strong>por</strong><br />
Paulo, <strong>de</strong> O Desconhecido, que busca, não o mar, mas a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com o mesmo<br />
intento <strong>de</strong> fugir ao ambiente que o oprime:<br />
“Quantas vezes, como um dínamo oculto, o pesado rumor <strong>da</strong>s<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s impulsionara os seus planos, quantas vezes<br />
vira erguer na sua imaginação as silhuetas inacaba<strong>da</strong>s dos prédios<br />
altos (...) tudo enfim que compunha esse mundo maravilhoso que ele<br />
só conhecia através <strong>de</strong> informações, <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> conversas<br />
com viajantes retar<strong>da</strong>dos na estra<strong>da</strong>, <strong>de</strong> retratos entrevistos nas<br />
folhas <strong>de</strong> jornais e, finalmente, <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> amigos cuja vi<strong>da</strong><br />
estava marca<strong>da</strong> <strong>por</strong> uma <strong>de</strong>ssas viagens feitas na moci<strong>da</strong><strong>de</strong>, viagens<br />
<strong>de</strong> que eles falavam sempre, ao cair <strong>da</strong> noite, como <strong>de</strong> um bem<br />
perdido para sempre. Como Paulo os conhecia, esses homens<br />
<strong>de</strong>vorados pela obsessão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que odiavam o campo como ele<br />
próprio odiava, o olhar brilhante fixo nas estra<strong>da</strong>s sonolentas,<br />
rasga<strong>da</strong>s infin<strong>da</strong>velmente ao sol forte do sertão, trilhas paralisa<strong>da</strong>s<br />
no impulso <strong>da</strong> fuga...” (CARDOSO, 1968: 137-138)