13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

157<br />

mundo muito gran<strong>de</strong>, em choque com o pequeno e bem organizado<br />

mundo dos outros, on<strong>de</strong> diferenças são loucuras, e erros, crimes<br />

imperdoáveis. (CARDOSO, 1968:145)<br />

Se Silas sempre fora, segundo Lisa, sua viúva, um menino triste, a ele<br />

juntam-se, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria produção <strong>dramática</strong>, Gina <strong>de</strong> quem “na sua terra”<br />

todos diziam que “não regulava bem”; Hil<strong>da</strong>, a professora, que “Sempre fora<br />

assim, diferente <strong>da</strong>s outras, sem gosto, sem interesse pelas coisas,<br />

distancia<strong>da</strong>, fria, antipática” (CARDOSO, 1969:285) ou, ain<strong>da</strong>, I<strong>da</strong>, a<br />

protagonista <strong>de</strong> Mãos Vazias, que: “Fora uma menina esquisita, a sua ausência<br />

<strong>de</strong> relações era nota<strong>da</strong> na pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (CARDOSO, 1969:23). E ain<strong>da</strong><br />

po<strong>de</strong>ríamos citar Pedro (A Luz no Subsolo), José Roberto (O Desconhecido) e<br />

todos os protagonistas <strong>da</strong>s obras cardosianas.<br />

E, se a forma <strong>de</strong> viver os i<strong>de</strong>ntifica, as mortes também os aproximam. A<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre I<strong>da</strong> e Silas fica implícita também na sugestão <strong>de</strong> que ele<br />

tenha cometido suicídio, que foi o mesmo caminho escolhido pela mulher para<br />

pôr fim às suas angústias. Mas a morte também é o fim <strong>de</strong> Pedro, que leva<br />

Ma<strong>da</strong>lena a envenená-lo; <strong>de</strong> Angélica que, como Marcos, atira em si mesma;<br />

<strong>de</strong> José Roberto, que morre <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assassinar Paulo...<br />

Também em O Filho Pródigo não estão ausentes as aproximações<br />

intertextuais. O anseio <strong>de</strong> Assur em partir, <strong>por</strong> exemplo, é compartilhado <strong>por</strong><br />

Paulo, <strong>de</strong> O Desconhecido, que busca, não o mar, mas a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com o mesmo<br />

intento <strong>de</strong> fugir ao ambiente que o oprime:<br />

“Quantas vezes, como um dínamo oculto, o pesado rumor <strong>da</strong>s<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s impulsionara os seus planos, quantas vezes<br />

vira erguer na sua imaginação as silhuetas inacaba<strong>da</strong>s dos prédios<br />

altos (...) tudo enfim que compunha esse mundo maravilhoso que ele<br />

só conhecia através <strong>de</strong> informações, <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> conversas<br />

com viajantes retar<strong>da</strong>dos na estra<strong>da</strong>, <strong>de</strong> retratos entrevistos nas<br />

folhas <strong>de</strong> jornais e, finalmente, <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> amigos cuja vi<strong>da</strong><br />

estava marca<strong>da</strong> <strong>por</strong> uma <strong>de</strong>ssas viagens feitas na moci<strong>da</strong><strong>de</strong>, viagens<br />

<strong>de</strong> que eles falavam sempre, ao cair <strong>da</strong> noite, como <strong>de</strong> um bem<br />

perdido para sempre. Como Paulo os conhecia, esses homens<br />

<strong>de</strong>vorados pela obsessão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que odiavam o campo como ele<br />

próprio odiava, o olhar brilhante fixo nas estra<strong>da</strong>s sonolentas,<br />

rasga<strong>da</strong>s infin<strong>da</strong>velmente ao sol forte do sertão, trilhas paralisa<strong>da</strong>s<br />

no impulso <strong>da</strong> fuga...” (CARDOSO, 1968: 137-138)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!