Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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autoral, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado as questões libertárias para centrar-se na moral<br />
retificadora:<br />
O teatro, encaminhando-se já para a peça <strong>de</strong> tese, <strong>de</strong>via não apenas<br />
retratar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana, mas julgá-la, aprovar ou <strong>de</strong>saprovar o<br />
que estaria acontecendo na cama<strong>da</strong> culta e consciente <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A burguesia, revendo-se no espelho retificador – ou<br />
embelezador – do palco, teria <strong>por</strong> missão realizar-se como mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> com<strong>por</strong>tamento individual e coletivo. (PRADO, 2003:80)<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista profissional, ganha im<strong>por</strong>tância a criação do “Teatro<br />
Ginásio Dramático”, em março <strong>de</strong> 1855, já que nos anos anteriores apenas<br />
João Caetano tinha uma companhia <strong>dramática</strong> fixa, que recebia seu nome:<br />
O Ginásio Dramático nasceu num momento muito especial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
brasileira. O país e particularmente a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
vinham passando <strong>por</strong> uma série <strong>de</strong> transformações, provoca<strong>da</strong>s<br />
pelos efeitos <strong>da</strong> então recente interrupção do tráfico negreiro.<br />
Beneficia<strong>da</strong>s com o dinheiro que antes era investido na compra dos<br />
escravos, algumas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s se expandiram, graças aos negócios que<br />
se multiplicaram, ao comércio que gerou mais empregos, aos<br />
bancos, pequenas indústrias, às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, enfim, que foram<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e gerencia<strong>da</strong>s pela burguesia emergente naquela<br />
altura. (FARIA, 2001:85)<br />
O “Ginásio” recebia uma platéia diferente do “Teatro João Caetano”<br />
(então “Teatro São Pedro <strong>de</strong> Alcântara”), socialmente mais refina<strong>da</strong>, e passou<br />
a abrigar, também, um repertório diferenciado abrindo espaço para as peças<br />
que seguissem a nova estética e relegando ao rival as encenações <strong>de</strong> um<br />
alquebrado romantismo. Faria ressalva:<br />
O realismo nesse tipo <strong>de</strong> peça é evi<strong>de</strong>ntemente relativo, pois o<br />
retrato <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> burguesa é sempre melhorado pelas pincela<strong>da</strong>s<br />
moralizantes. Os heróis, <strong>por</strong> exemplo, são com<strong>por</strong>tados pais e mães<br />
<strong>de</strong> família ou moços e moças que têm a cabeça no lugar; e o amor<br />
que vale não é mais a paixão ar<strong>de</strong>nte, mas o amor conjugal, que<br />
<strong>de</strong>ve ser calmo e sereno. Já os vilões, como era <strong>de</strong> se esperar, não<br />
respeitam nenhum valor moral. Po<strong>de</strong>m aparecer na pele <strong>de</strong> uma<br />
prostituta, <strong>de</strong> um caça-dotes, <strong>de</strong> um viciado em jogo, <strong>de</strong> um agiota,<br />
<strong>de</strong> uma personagem, enfim, que seja sempre uma ameaça à maior<br />
instituição burguesa, ou seja, à família. (FARIA, 2001:87)<br />
Prado (2003) <strong>de</strong>staca a intensa produção <strong>dramática</strong> ocorri<strong>da</strong> entre nós<br />
nos anos <strong>de</strong> 1855 a 1865, tempo <strong>da</strong>s novas idéias. Ele evi<strong>de</strong>ncia os nomes <strong>de</strong><br />
Francisco Pinheiro Guimarães, Quintino Bocaiúva e José <strong>de</strong> Alencar que, a<br />
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