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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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CALAZANS (lendo) “Papai. Roberto jurou-me que está inocente e<br />

veio buscar-me. Eu não po<strong>de</strong>ria viver sem ele. Perdoe. Perdoem-me<br />

todos. Deixo um beijo para você, outro para Vovó, outro para tio<br />

João, outro para Carlitos e o último para papai Calazans... Cecy”.<br />

(VIANNA, s/d: 78-79)<br />

A família, excetuando as farpas troca<strong>da</strong>s entre César e Van<strong>da</strong> <strong>por</strong> causa<br />

<strong>de</strong> sua insatisfação (justifica<strong>da</strong>, no parecer <strong>de</strong> dona Amélia e dr. Calazans) 20 no<br />

casamento, é harmônica e amorosa. Cecy adora o irmão e a avó, além do pai e<br />

todos parecem adorá-la e, segundo o médico, é o ciúme que os leva a rejeitar a<br />

união <strong>de</strong>la com o namorado. No final, a harmonia volta ao lar que se restaura,<br />

mantendo-se preserva<strong>da</strong> a família.<br />

Cafezeiro associa Renato Vianna ao “teatro <strong>de</strong> idéias”, aproximando-o<br />

<strong>de</strong> Álvaro Moreyra e <strong>de</strong> Joracy Camargo. Afirma o crítico que o autor<br />

... põe no palco salões abastados, bibliotecas <strong>de</strong> ricos intelectuais.<br />

Os criados estão no texto apenas para o exercício <strong>de</strong> funções<br />

secundárias, não são estu<strong>da</strong>dos como seres humanos e sequer<br />

participam dos dramas. Títulos <strong>de</strong> nobreza e altas distinções<br />

completam o cenário <strong>de</strong> uma classe que necessita reabilitar-se<br />

diante <strong>de</strong> Deus. Ao mesmo tempo (e contraditoriamente), há a<br />

<strong>de</strong>fesa do po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s elites intelectuais e econômico-financeiras;<br />

constrói-se, <strong>de</strong>ssas elites, a imagem i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> honra<strong>de</strong>z e beleza,<br />

mo<strong>de</strong>lo ético para as <strong>de</strong>mais classes. (CAFEZEIRO, 1996:368)<br />

O crítico assinala o “passadismo” do autor quando este reflete sobre a<br />

moral tradicional. Em Sexo, percebe o crítico, não há a intenção <strong>de</strong> discutir a<br />

moral burguesa profun<strong>da</strong>mente, mas, ao contrário, há o interesse <strong>de</strong> conservar<br />

suas bases “reformulando alguns aspectos do seu exercício, como a hipocrisia”<br />

(1996:367). Para Cafezeiro, em Renato Vianna, a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é procura<strong>da</strong> em<br />

Deus e nas discussões sobre o com<strong>por</strong>tamento do homem ante sua<br />

consciência e a ética: “Trata-se <strong>de</strong> reatar os laços rompidos, entre Deus e o<br />

homem, pela mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>” (1996:370).<br />

20 De acordo com o terceiro volume <strong>da</strong> História <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> no Brasil, com as transformações<br />

opera<strong>da</strong>s na vi<strong>da</strong> urbana especialmente nas três primeiras déca<strong>da</strong>s do século XX nas gran<strong>de</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

brasileiras (Rio e São Paulo) “intelectuais <strong>de</strong> ambos os sexos elegeram como os legítimos responsáveis<br />

pela suposta corrosão <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m social a quebra <strong>de</strong> costumes, as inovações nas rotinas <strong>da</strong>s mulheres e,<br />

principalmente, as modificações nas relações entre homens e mulheres”. Com isso, assuntos que até<br />

então não vinham à baila, passaram a ser objeto <strong>de</strong> exame. A Revista Feminina, im<strong>por</strong>tante publicação <strong>da</strong><br />

época, exibiu artigos <strong>de</strong> homens e <strong>de</strong> mulheres culpando uns aos outros pelas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s conjugais. A<br />

insatisfação <strong>de</strong> Van<strong>da</strong> com o casamento retomava a discussão <strong>de</strong> anos anteriores e, feita <strong>de</strong> forma<br />

superficial, não provocaria mais escân<strong>da</strong>lo.<br />

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