Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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tentava implantar no teatro brasileiro.” (DIONYSOS, 1975:55) 25 . Ficariam sob sua responsabilidade três espetáculos, entre os quais Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. Sobre os ensaios, lembra o autor carioca: O ensaio geral de Vestido de Noiva foi o próprio inferno. Com os seus trinta anos, Ziembinski tinha uma resistência física brutal. Os intérpretes sabiam o texto, sabiam as inflexões, os movimentos, tudo. Durante sete meses, à tarde e à noite, a peça fora repisada até o limite extremo da saturação. Mas faltava ainda a luz. E Ziembinski exigia mais do elenco cada vez mais. Não posso falar da luz sem lhe acrescentar um ponto de exclamação. Em 1943, o nosso teatro não era iluminado artisticamente. Pendurava-se, no palco, uma lâmpada de sala de visitas, ou de jantar. Só. E a luz fixa, imutável e burríssima, nada tinha a ver com os textos e os sonhos da carne e da alma. Ziembinski era o primeiro, entre nós, a iluminar poética e dramaticamente uma peça. (DIONYSOS, 1975:51) As transformações que a peça traria eram tão grandes que Nelson confessa seu receio do fracasso às vésperas da estréia. Assiste à exaustão do elenco, à obsessão de Ziembinski pela luz exata, às brigas provocadas pelo cansaço e, sobretudo, lembra-se do cenário nacional que comporá o pano de fundo para o seu palco: Ah, o meu processo de ações simultâneas, em tempos diferentes não tinha função no Brasil. O nosso teatro era ainda Leopoldo Fróes. Sim, ainda usava o colete, as polainas e o sotaque lisboeta de Leopoldo Fróes. E ninguém perdoaria a desfaçatez de uma tragédia sem “linguagem nobre”. Ao entrar em casa, eu não acreditava mais em mim. E me perguntava, inconsolável: “Como é que eu fui meter gíria numa tragédia?” (DIONYSOS, 1975:53) A despeito de suas dúvidas, contudo, era Ziembinski quem estava com a razão: Vestido de Noiva foi um sucesso e é considerada, pela maioria da crítica, o marco renovador do Teatro Nacional. “Os Comediantes” ainda estiveram nos palcos por um tempo e passaram por uma fase profissional. Problemas financeiros levaram à dissolução do grupo, que deixou um legado importante a todos que não queriam mais insistir nas velhas fórmulas: depois dos espetáculos do grupo, os métodos antigos já 25 Embora as peças de Lúcio tenham sido consideradas “literárias demais”, os textos nacionais escolhidos para serem levados ao palco foram O Escravo e Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. A seleção do drama cardosiano juntamente com o de Nelson, nesse momento do grupo, atesta seu potencial dramático. 50
não eram mais aceitos. A década de 40 “deslocava para o encenador o eixo central do espetáculo” (MAGALDI, 1997:208) e, qualquer que fosse o texto, exigia-se agora uma encenação apurada. Foi nesse contexto e justamente nessa temporada histórica de “Os Comediantes” que Lúcio Cardoso levou ao palco seu drama O Escravo. É aqui que começa a história desta Tese. 51
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