Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

de Lúcio Cardoso e seu corpus principal é constituído pelas quatro peças
teatrais completas escritas pelo Autor mineiro: O Escravo, O Filho Pródigo, A
Corda de Prata e Angélica.
Cumpre assinalar que, para empreender as análises a que me
proponho, estou deixando de lado dimensões específicas do espetáculo teatral
propriamente dito, tais como os cenários e figurinos, o trabalho dos atores, as
pausas e as entonações das falas etc. Não é difícil compreender a dificuldade
de levar a cabo um estudo que pudesse considerar todos esses aspectos, já
que não há registros gravados dos espetáculos. Para poder, então, avaliar
essa dimensão da obra de Lúcio Cardoso, não analiso propriamente o “teatro”,
mas a “literatura dramática” cardosiana e, tal como Carelli, privilegiei “a fábula,
isto é, a transformação do discurso em narrativa, ou a análise dos elementos
da ação” (CARELLI, 1988: 88). Mas isso não significa, como se verá, que
deixei de lado a avaliação dos aspectos formais da modalidade dramática
escolhida pelo Autor: o drama.
Meu principal objetivo consistiu em compreender as idéias contidas na
produção dramática cardosiana partindo da análise de suas peças teatrais e da
comparação entre elas e seus romances e novelas – sobretudo essas últimas,
por causa da proximidade temporal entre as realizações teatrais e o
lançamento dessas publicações. Nesse sentido, foi necessário que a pesquisa
contemplasse, indiretamente, sua produção romanesca. Para tanto, também só
considerei os romances que Lúcio publicou: Maleita, Salgueiro, A luz no
subsolo, Dias perdidos e Crônica da casa assassinada e as novelas contidas
nas obras Três histórias da província e Três histórias da cidade. Não me
debrucei sobre O viajante por ele ter sido organizado e publicado
postumamente graças ao trabalho de Otávio de Faria.
Também me vali do Diário completo do escritor para esclarecer certos
aspectos que vieram à luz durante a análise, para respaldar algumas posições
que julgava divisar na poética cardosiana. Classificado como “gênero híbrido”
por seu próprio criador, a obra mistura o registro de acontecimentos cotidianos,
reflexões sobre o Brasil, sobre religião e sobre a arte sendo atravessado,
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