Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

será acentuado no comportamento vampiresco de Angélica 80 .
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Gina também lembra a Peregrina de O Filho Pródigo, que pede água
porque sente “sempre uma sede que me devora” (NASCIMENTO, 1961:49). É
a mesma impressão que a protagonista de A Corda de Prata causa em seu
marido: “Gina sempre olha para mim como se tivesse uma sede enorme”.
(CARDOSO, s/d:. 13) e que simboliza a ânsia desesperada de todos os
protagonistas cardosianos em encontrar a saída da crise que vivem.
Ainda como nO Filho Pródigo, Aíla acredita que só poderá alcançar a
liberdade pela qual anseia se seu marido morrer e essa é a mesma conclusão
de Gina: as duas assassinam seus companheiros, atitude que já cometera
Madalena, em A Luz no Subsolo.
E os traços homoeróticos contidos na atitude vampiresca de Angélica
trazem à memória os amores interditos do Desconhecido por Paulo e dos
adolescentes de O Anfiteatro pelo professor Roberto Alves.
Embora estejam enumerados tão-só alguns exemplos, eles são
suficientes para mostrar que a estratégia formal destacada em O Escravo, em
que as personagens dizem e redizem as mesmas falas compondo um jogo de
espelhos, ganha amplitude quando se pensa na dimensão maior da obra
cardosiana. Esse mesmo jogo aparece na seleção de temas e situações, na
composição das personagens e nas soluções encontradas, revelando que a
citada estratégia é, na verdade, uma construção formal recorrente que dá
indícios das obsessões cardosianas. Por esta razão, sirvo-me delas para
analisar melhor seus dramas inserindo-os, agora, no universo de preocupações
de seu Autor.
Em A Luz no Subsolo – que, como já se viu, marca uma divisão de
águas na trajetória de Lúcio Cardoso – Pedro, um dos protagonistas, dialoga
com um “mendigo resignado” numa alucinação muito próxima da que Gina vive
80 Quanto ao tema do vampirismo em Lúcio Cardoso, há outras tantas referências estudadas na Tese de
Doutorado de BARROS JR., defendida em 2002 na UFRJ.