13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Lacer<strong>da</strong>, <strong>por</strong> exemplo, <strong>de</strong>stacou a atmosfera “carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> angústia e <strong>de</strong><br />

expectativas trágicas”, o “clima <strong>de</strong> pesa<strong>de</strong>lo” que já se conhecia <strong>da</strong> obra do<br />

autor. “Romancista do trágico, <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> enveredou pelo teatro trágico. E<br />

saiu vitorioso...”. O crítico prossegue:<br />

“Não faltaram, é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, como era natural, restrições, <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

or<strong>de</strong>m, à peça. Apontaram, alguns, simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> composição,<br />

valorização do diálogo em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> ação, atmosfera pesa<strong>da</strong> e<br />

negra, maior comunicação <strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong> que <strong>de</strong> fato (sic) 31 .<br />

Devemos convir, <strong>por</strong>ém, antes <strong>de</strong> tudo que, como tragédia, a peça<br />

só podia ser encara<strong>da</strong> à luz <strong>da</strong>s características que lhe são<br />

inerentes. Fazer semelhantes restrições, é fazer restrições à própria<br />

natureza <strong>da</strong> tragédia, o que significaria <strong>de</strong>snaturá-la.<br />

(...)<br />

Há, sem dúvi<strong>da</strong>, na peça <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>, uma sobrie<strong>da</strong><strong>de</strong> natural<br />

<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>ntes – o que se observa nas tragédias em geral. Mas, <strong>por</strong><br />

isto mesmo, a peça, <strong>de</strong>spoja<strong>da</strong> do supérfluo, adquire uma<br />

con<strong>de</strong>nsação mais po<strong>de</strong>rosa, focalizando mais intensamente, em<br />

sua viva nu<strong>de</strong>z, o núcleo <strong>da</strong> tragédia. Não se observa, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

maior riqueza <strong>de</strong> fatos e <strong>de</strong> gestos, tão reclamados pelos limitados<br />

realistas sensoriais. O que existe é uma ação <strong>de</strong> outra natureza e<br />

que se processa em outro plano.”<br />

Para compreen<strong>de</strong>r esse “outro plano”, complementa o crítico, é<br />

fun<strong>da</strong>mental a colaboração <strong>de</strong> um público que esteja à sua altura. Os<br />

comentários foram elogiosos e a perspectiva era clássica: para ele, o texto<br />

cardosiano estaria restaurando a antiga forma <strong>de</strong> representação grega.<br />

Já em “O GLOBO nos teatros”, M.H. classifica a peça como<br />

“tragicomédia” e aponta suas falhas:<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma peça escrita com elevação e certo rigor clássico, na<br />

qual <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> continuou romancista. O autor foi traído pelo<br />

brilho do diálogo e escreveu uma peça que, repousando nele, não<br />

tem ação e não tem teatro – exceção feita do final, que é um suicídio<br />

em cena.<br />

Destaca, também, o ambiente sombrio e carregado em que circulam as<br />

personagens, “criaturas tortura<strong>da</strong>s e infelizes que nunca <strong>de</strong>vem ter sorrido” e<br />

que “dão a impressão <strong>de</strong> espectros e não <strong>de</strong> seres humanos”. Apesar <strong>da</strong>s<br />

restrições, M.H. assinala que a platéia “premiou a peça com prolongados<br />

aplausos”.<br />

31 Notação do autor do artigo.<br />

65

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!