Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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Vincent consi<strong>de</strong>ra que a opção <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> quanto a dirigir seu drama foi “uma<br />
temeri<strong>da</strong><strong>de</strong>”, <strong>da</strong>ndo a enten<strong>de</strong>r que a <strong>de</strong>cisão não foi acerta<strong>da</strong>.<br />
128<br />
Sábato Magaldi, em artigo intitulado “Reabre o ‘Teatro <strong>de</strong> Bolso’”,<br />
arquivado na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, comenta que, <strong>de</strong> início, Angélica<br />
<strong>de</strong>veria estrear no “Fênix”. A apresentação, no entanto, não foi possível no<br />
espaço originalmente planejado e foi preciso conseguir, às pressas, outro<br />
palco. “Por gentileza do proprietário do Teatro <strong>de</strong> Bolso, os entendimentos se<br />
processaram com a urgência requeri<strong>da</strong>”, informa o crítico. Quando tudo parecia<br />
resolvido, apareceram outras tantas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> substituir, num prazo<br />
mínimo, um figurante do elenco até a<strong>da</strong>ptar a encenação, já ensaia<strong>da</strong> no<br />
“Fênix”, a um palco menor que o original. Os problemas adiaram a estréia,<br />
aumentaram as <strong>de</strong>spesas e o <strong>de</strong>scrédito <strong>de</strong> empreendimento.<br />
A 04 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1950, véspera <strong>da</strong> estréia, <strong>Lúcio</strong> se revela ambíguo<br />
em relação à nova criação:<br />
Apesar <strong>de</strong> tudo, apaixonante experiência esta, que levo a efeito com<br />
Angélica: sente-se a peça <strong>de</strong>sagregar-se entre os nossos <strong>de</strong>dos,<br />
<strong>de</strong>com<strong>por</strong>-se como uma malha <strong>de</strong> xadrez que se <strong>de</strong>sfaz, tornar-se<br />
na<strong>da</strong>, finalmente. Meditando um pouco na obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> platéia,<br />
enquanto os artistas repisam várias vezes uma mesma cena, acho<br />
inacreditável que palavras tão vazias tenham con<strong>de</strong>nsado alguma<br />
emoção ou tivessem significado um momento <strong>de</strong> inspiração minha.<br />
São frases sem calor, indiferentes, como se pertencessem a<br />
acontecimentos banais, cotidianos, e não a uma obra fecha<strong>da</strong>, que<br />
limita o drama. (CARDOSO, 1970:124)<br />
Finalmente, a estréia se <strong>de</strong>u, nas palavras <strong>de</strong> seu Autor e diretor, “num<br />
teatro minúsculo e pouco confortável” e o espetáculo, segundo ele mesmo,<br />
“constituiu mais um fracasso para se juntar à série” que já o acompanhava 62 .<br />
As causas, <strong>Lúcio</strong> as enumera em seu Diário: “cena estreita, artistas que<br />
ignoravam completamente o texto, má vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos e direção <strong>de</strong>ficiente”<br />
(CARDOSO, 1970:125).<br />
Em anotação do dia 03 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro do mesmo ano, ele se exime <strong>de</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> maior no <strong>de</strong>sastre: “Para quem não leu a peça, e diante <strong>da</strong><br />
hesitação dos artistas, é fácil pensar que o <strong>de</strong>feito maior é do próprio texto. E aí<br />
62 Constavam do elenco Luíza Barreto Leite, Edmundo Lopes, Yety Albuquerque, Mirian Roth e Regina<br />
<strong>de</strong> Aragão.