Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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ural <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte e que, já <strong>de</strong>sligados <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no campo, ain<strong>da</strong> não estavam<br />
integrados à vi<strong>da</strong> urbana 26 . Consi<strong>de</strong>rando esses fatores pessoais e sociais, é<br />
fácil compreen<strong>de</strong>r seu sentimento <strong>de</strong> “exílio”, seu “gauchismo” tantas vezes<br />
registrado no seu Diário:<br />
Às vezes, relendo essas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s notas que escrevo ao sabor<br />
<strong>da</strong> inspiração, sinto a tristeza <strong>de</strong> su<strong>por</strong> tudo isto apenas um eco <strong>da</strong><br />
minha solidão. E serão realmente sonhos, <strong>de</strong>formações <strong>de</strong> um<br />
homem que se sente irremediavelmente – <strong>por</strong> que castigo, <strong>por</strong> que<br />
privilégio? – fora do tempo? (CARDOSO, 1970: 71)<br />
A trajetória artística <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> inicia-se em 1934 quando publica,<br />
pela Editora Schmidt, o seu primeiro romance - Maleita. A obra, que tratava <strong>da</strong><br />
fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pira<strong>por</strong>a e cujo protagonista inspirava-se no pai do<br />
Autor, aproximava-se bastante dos romances regionalistas <strong>da</strong> época e foi bem<br />
recebido pela Crítica.<br />
Seu segundo romance, Salgueiro, foi publicado em 1935 e conquistou<br />
repercussão favorável ao documentar o cotidiano <strong>de</strong> misérias e privações dos<br />
moradores do morro carioca. O livro, contudo, transcen<strong>de</strong> a intenção<br />
documental <strong>por</strong>que <strong>Lúcio</strong> dá “a Salgueiro uma dimensão simbólica que<br />
ultrapassa os limites <strong>da</strong> observação <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> uma família dividi<strong>da</strong> e<br />
esmaga<strong>da</strong> pela miséria” (CARELLI, 1988:156). Já nesse romance, fica claro<br />
que o autor <strong>de</strong>seja atingir “a causa última <strong>de</strong>sse inferno e <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>stinos<br />
trágicos” (CARELLI, 1988:156) e que essa causa não repousa na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
mas no afastamento <strong>de</strong> Deus.<br />
Em 1936, veio à luz seu terceiro romance - A Luz no Subsolo, que se<br />
afastava, <strong>de</strong>finitivamente, <strong>de</strong> qualquer engajamento ou <strong>de</strong>núncia social. Muitos<br />
críticos não apreciaram a nova obra e seu Autor também não gostou <strong>da</strong>s<br />
26 Em entrevista para A Gazeta, jornal <strong>de</strong> São Paulo (Cf: Arquivos do Autor, Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui<br />
Barbosa, Rio <strong>de</strong> Janeiro) intitula<strong>da</strong> “Da imaginação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, <strong>Lúcio</strong> conta que saiu <strong>de</strong> Curvelo com<br />
apenas um ano <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> e que nunca mais voltou. Criou-se em Belo Horizonte e, ain<strong>da</strong> adolescente,<br />
mudou-se para o Rio <strong>de</strong> Janeiro. A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>sse afastamento, contudo, percebe-se, nas <strong>de</strong>scrições e<br />
narrações <strong>de</strong> Maria Helena <strong>Cardoso</strong>, personagens e locais que povoaram o universo do autor. A<br />
professora Hil<strong>da</strong>, <strong>por</strong> exemplo, <strong>da</strong> novela homônima (1946), parece ter sido inspira<strong>da</strong> em Dona<br />
Esmeral<strong>da</strong>, professora que passeia severamente pelas páginas <strong>de</strong> Por on<strong>de</strong> andou meu coração.<br />
Im<strong>por</strong>ta assinalar essa proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> com a “província” <strong>de</strong> Curvelo <strong>por</strong>que seu universo literário,<br />
como já foi assinalado, liga-se muito mais a esse mundo do que ao dos centros urbanos on<strong>de</strong> morou.<br />
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