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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Lisa <strong>de</strong>sce e Augusta se empenha em afirmar que o irmão está alterado,<br />

que seu estado po<strong>de</strong> piorar e que ela é culpa<strong>da</strong> <strong>por</strong> não o poupar <strong>de</strong> excessos<br />

que po<strong>de</strong>riam ser prejudiciais ao seu equilíbrio. Irritado, Marcos diz-lhe que se<br />

cale e que tem algo a contar à cunha<strong>da</strong>:<br />

AUGUSTA (interrompendo-o, irônica) Trata-se <strong>de</strong> um antigo segredo.<br />

Tudo é velho e sem interesse, e é em torno <strong>de</strong> coisas <strong>de</strong>sta natureza<br />

que construímos a nossa vi<strong>da</strong> (CARDOSO, 1973:37).<br />

Essa talvez seja a fala mais lúci<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste ato: <strong>de</strong> fato, como já foi<br />

assinalado, tudo é lembrança: Augusta vive <strong>de</strong> um ódio alicerçado no passado<br />

que, <strong>de</strong> tão obsessivo, aproxima-se <strong>de</strong> uma paixão; Marcos afirma ter vivido os<br />

últimos cinco anos <strong>da</strong> lembrança <strong>de</strong> Lisa que, <strong>por</strong> sua vez, viveu <strong>da</strong> lembrança<br />

<strong>de</strong>le e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que passou. Além disso, Marcos lembra a disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre<br />

os dois irmãos mais velhos e atribui ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> Augusta a crise<br />

que o acometeu. Ela também já relembrou a crise (no primeiro ato, com Isabel)<br />

e a atribui à influência <strong>de</strong> Silas. Excetuando-se a idéia abstrata <strong>de</strong> Marcos <strong>de</strong><br />

partir (ele não sabe para on<strong>de</strong> nem como viveria), não há nenhuma realização<br />

no presente <strong>de</strong>ssas pessoas nem qualquer projeção para o futuro. Por estas<br />

razões, é possível afirmar que o tempo <strong>de</strong>sse drama é o passado e seu recurso<br />

fun<strong>da</strong>mental é a rememoração.<br />

De volta ao palco: quando Marcos tenta revelar seu segredo, Lisa diz<br />

que já o conhece. A <strong>de</strong>speito disso, ele prossegue dizendo que sempre a<br />

amara e que <strong>de</strong>sejara protegê-la <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do irmão, que a machucava<br />

e aterrorizava:<br />

(...) Mas apesar <strong>de</strong> tudo, não ousei dizer na<strong>da</strong>, todos nós sofríamos<br />

em silêncio, odiando-o quase sem consciência <strong>de</strong>sse ódio. Foi aí que<br />

comecei a imaginar que apesar <strong>de</strong> tudo, o escolhido era eu, que<br />

você um dia acabaria <strong>por</strong> romper esse fútil contrato com meu irmão.<br />

(...)<br />

Mas você não rompeu, ao contrário, com o correr do tempo fui<br />

compreen<strong>de</strong>ndo que uma força obscura a aprisionava a ele. Muitas<br />

vezes pensei em lutar e arrebatá-la <strong>da</strong>s suas mãos. Mas era inútil,<br />

Silas era muito mais forte do que nós. Como sofri, como <strong>de</strong>rramei<br />

inúteis lágrimas, como odiei essa sombra que pesava sobre o meu<br />

<strong>de</strong>stino! On<strong>de</strong> quer que fosse sentia sempre os seus olhos me<br />

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