Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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<strong>de</strong>struir na intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do amor familiar. O convívio se marca pelo se toma para<br />
garantir a própria sobrevivência psíquica – e a reação a essa “usurpação” é o<br />
ódio que se vota ao Outro. <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> traz à cena personagens solitárias,<br />
que não alcançam sucesso na tentativa <strong>de</strong> abertura para o próximo – fracasso<br />
também representado formalmente pelos diálogos frustrados, que mais<br />
separam que unem os familiares.<br />
Num ambiente como esse, o passar do tempo apenas fortalece as<br />
contradições existentes fazendo-as insu<strong>por</strong>táveis e a morte é a alternativa a<br />
este inferno on<strong>de</strong> não se quer viver. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma postura que evoca o<br />
Romantismo, quando a dor <strong>de</strong> viver também podia ser resolvi<strong>da</strong> com a morte.<br />
Mas, diferente <strong>de</strong> então, não há expectativas <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> nessa opção<br />
evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s na peça cardosiana.<br />
Comparando essa problemática com aquelas que subiam aos palcos<br />
nos anos 30 e cujas intrigas mais <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s e inovadoras foram discuti<strong>da</strong>s no<br />
segmento 2.2 <strong>de</strong>sta Tese, imagine-se a estranheza que tal enredo provocou<br />
para o espectador <strong>de</strong> 1943 que ain<strong>da</strong> nem tinha assistido ao Vestido <strong>de</strong> noiva!<br />
4.2- Um breve intervalo: o “Teatro <strong>de</strong> Câmera”<br />
Insatisfeito com as críticas e com as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> levar seus textos ao<br />
palco, <strong>Lúcio</strong> “chegou à conclusão <strong>de</strong> que somente com um elenco próprio é<br />
que conseguiriam, ele e outros autores <strong>de</strong> maior expressão, o<strong>por</strong>tuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
verem encena<strong>da</strong>s as suas próprias peças” (DORIA, 1975:120). Afinal, assinala<br />
Gustavo Dória, os elencos profissionais não abrigavam originais que fugissem<br />
ao padrão <strong>de</strong> uma platéia pouco exigente. Então, <strong>Lúcio</strong> i<strong>de</strong>alizou criar o “Teatro<br />
<strong>de</strong> Câmera”, que nasceu em 1947 com o apoio <strong>de</strong> Agostinho Olavo e Gustavo<br />
Dória e arrebanhou a animação <strong>de</strong> quase todos os autores com quem entrava<br />
em contato. Cecília Meireles, Rosário Fusco e o próprio Agostinho Olavo já<br />
tinham originais para oferecer e Otávio <strong>de</strong> Faria prometia terminar um. Apesar<br />
<strong>da</strong> empolgação, Dória observa:<br />
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