13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

personagem na galeria <strong>da</strong>s mulheres oblíquas e dissimula<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Literatura, é<br />

rechaça<strong>da</strong>:<br />

148<br />

“E, já <strong>de</strong>scendo os <strong>de</strong>graus do jardim, ocorreu-lhe afinal que tinha se<br />

entregue ao médico friamente, sem nenhum <strong>de</strong>sejo.” (CARDOSO,<br />

1968:30)<br />

I<strong>da</strong> sabe que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, alguma coisa a diferenciava <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais<br />

mulheres que compunham seu ambiente familiar e social:<br />

“As mulheres <strong>da</strong> casa tinham to<strong>da</strong>s, a expressão <strong>de</strong> um bem-estar<br />

adquirido, <strong>de</strong> uma sereni<strong>da</strong><strong>de</strong> acima <strong>de</strong>ssas mesquinhas<br />

preocupações. Não <strong>de</strong>sejavam na<strong>da</strong>, eram humil<strong>de</strong>s e pareciam<br />

pesar os menores gestos como se não ignorassem que mais tar<strong>de</strong><br />

seriam pedi<strong>da</strong>s contas <strong>por</strong> suas ações.” (CARDOSO, 1968:75)<br />

Sua única amiga é Ana, não <strong>por</strong> acaso uma mulher mal vista na<br />

pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>por</strong> que vivia “com um homem que talvez não fosse seu<br />

marido” (CARDOSO, 1968:23). No entanto, quando vai procurá-la, I<strong>da</strong> constata<br />

a distância que as separa emocionalmente:<br />

– Ana, é possível que você viva conforma<strong>da</strong> com a sua existência?<br />

A outra erguera a cabeça e apenas um brilho rápido passara nos<br />

seus olhos:<br />

– Tenho marido. De que preciso mais?” (CARDOSO, 1968:32)<br />

E é, exatamente, <strong>por</strong>que precisa <strong>de</strong> mais que I<strong>da</strong> se marca como uma<br />

exceção naquela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A narrativa, enfocando sua vi<strong>da</strong> interior e seus<br />

conflitos, torna sutis as suas escolhas, matizando os papéis femininos<br />

tradicionalmente atribuídos às mulheres – a esposa/mãe santifica<strong>da</strong>:<br />

E, mesmo, ela já não podia tolerar aquela vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> sombra, vigiando<br />

continuamente as travessuras do pequeno. (CARDOSO, 1968:39)<br />

ou a prostituta. E não o faz através <strong>de</strong> digressões <strong>de</strong> um Autor que <strong>de</strong>seja<br />

postular uma nova moral sexual, mas através do com<strong>por</strong>tamento angustiado e<br />

<strong>da</strong>s perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s próprias personagens. É o que se vê já nas cenas finais,<br />

quando Felipe tenta convencer-se e convencer a esposa <strong>de</strong> que tudo po<strong>de</strong><br />

voltar a ser como antes, já que apenas Ana, o médico e eles mesmos sabiam<br />

do adultério cometido. Para o marido, é preciso que I<strong>da</strong> volte para a casa e<br />

para o casamento a fim <strong>de</strong> evitar comentários na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. De qualquer maneira,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!