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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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3- Apresentando <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong><br />

52<br />

Cegamente marchava para o meu <strong>de</strong>stino,<br />

insubmisso, feroz, atormentado e solitário.<br />

<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>, Diário Completo<br />

<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> nasceu em 1912 na pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Curvelo, em<br />

Minas Gerais. Foi o filho caçula <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> seis irmãos. Seu pai era um<br />

“empreen<strong>de</strong>dor, au<strong>da</strong>cioso e incapaz <strong>de</strong> se conformar com um trabalho<br />

pequenino. Não tolerava ser empregado <strong>de</strong> ninguém.” (CARDOSO, 1967:15)<br />

Na prática, isso significa que ele não conseguiu ter uma vi<strong>da</strong> financeiramente<br />

estável. Animava-se com um empreendimento, mu<strong>da</strong>va-se com a família ou<br />

ausentava-se <strong>por</strong> longos períodos man<strong>da</strong>ndo apenas recursos materiais – na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, poucos – para a esposa que cui<strong>da</strong>va <strong>da</strong> casa e <strong>da</strong><br />

educação dos filhos. O negócio falia, ele voltava, a família sofria mais um revés<br />

até o novo empreendimento. Era também um homem valente e instruído, dois<br />

valores que lhe garantiam o respeito dos vizinhos. Foi o seu nome (e <strong>por</strong>tanto,<br />

implicitamente, a sua imagem como <strong>de</strong>stino) que <strong>Lúcio</strong> carregou consigo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o nascimento.<br />

Em Por on<strong>de</strong> andou meu coração, Maria Helena, irmã <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong>, tece um<br />

retrato bastante carinhoso do pai e <strong>da</strong> infância que viveu. Sem que haja<br />

qualquer intenção restauradora <strong>de</strong> um tempo nostalgicamente relembrado, seu<br />

relato se reveste, em muitos momentos, <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>alização que ignora<br />

aspectos negativos dos acontecimentos, especialmente os que dizem respeito<br />

à relação entre o pai e a mãe:<br />

Não entendi na<strong>da</strong>: mamãe zanga<strong>da</strong>, <strong>de</strong> cara fecha<strong>da</strong>, mal falava<br />

conosco a não ser para zangar-se; papai, com ar tristonho, a<br />

qualquer tentativa <strong>de</strong> conversa <strong>da</strong> gente, dizia:<br />

- Seu pai não presta, minha filha.<br />

Mais admira<strong>da</strong> ficava, pois, para nós, nenhum pai como ele, lindo,<br />

bom, valente, generoso, tudo, tudo. Por que dizia que não prestava?<br />

Não podia <strong>de</strong>cifrar aquele enigma. (CARDOSO, 1967:70)<br />

Como o mundo que relembra está <strong>de</strong>finitivamente perdido, os eventos<br />

que a criança presenciou são representados sem qualquer censura ou<br />

con<strong>de</strong>nação <strong>por</strong> parte <strong>da</strong> narradora adulta que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> registrar, contudo,<br />

o caráter <strong>de</strong>sse homem:

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