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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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106<br />

Minha consciência <strong>de</strong> ser livre. No mais íntimo do meu ser, a noção<br />

<strong>de</strong> que tudo é absurdo, que somos mais altos quanto mais livres<br />

somos. (CARDOSO, s/d:.56)<br />

O médico chega à conclusão <strong>de</strong> que ela não ama Renato tanto quanto<br />

afirma: “Como po<strong>de</strong> conciliar o amor com essa idéia <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>?”<br />

(CARDOSO, s/d:57)<br />

Vamos, po<strong>de</strong> falar francamente. Não é difícil constatar que ante tão<br />

<strong>de</strong>smesura<strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e autonomia, o amor não significa coisa<br />

alguma. Como a pie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele também não tem sentido. (...)<br />

(CARDOSO, s/d:57)<br />

O que o médico não compreen<strong>de</strong> é como Gina po<strong>de</strong>ria amar Renato se<br />

não seguia o amor conjugal tal como se esperava <strong>da</strong>s esposas <strong>da</strong> época. Sua<br />

loucura, filha <strong>da</strong>s suas idéias <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, tem relação com a ousadia ou com<br />

a inconformação em a<strong>de</strong>quar-se a um papel social que concebia a mulher<br />

como um ser nascido para o amor – mas um amor que impunha obrigações<br />

que anulavam sua vonta<strong>de</strong> e personali<strong>da</strong><strong>de</strong> quando elas <strong>de</strong>sagra<strong>da</strong>vam ou<br />

entravam em discordância com as do marido.<br />

Então, naquele contexto, Gina acaba <strong>por</strong> reconhecer que realmente não<br />

ama Renato e que, quando ele a contraria, chega a odiá-lo. Legitimando o<br />

senso comum <strong>da</strong> época histórica e ratificando o ponto <strong>de</strong> vista que venho<br />

expondo, o médico questiona se ele não “teria esse direito” (<strong>de</strong> contrariá-la), ao<br />

que ela retruca:<br />

(FREMENTE, CHEIA DE ÓDIO COMO SE RENATO ESTIVESSE<br />

PRESENTE) Acho que ele não tem este direito. Eu o olho, e quanto<br />

mais o faço, mais o o<strong>de</strong>io. “Este verme, este imundo bicho <strong>da</strong> terra,<br />

esta coisa mole, sem significado e sem consciência... Este homem<br />

não <strong>de</strong>via estar morto, não <strong>de</strong>via se afogar para sempre na sua<br />

horrorosa mediocri<strong>da</strong><strong>de</strong>?” Aí está, é isto o que eu penso, é isto o que<br />

me saco<strong>de</strong> o coração.( CARDOSO, s/d:57-58)<br />

Se a opção é amar como as outras mulheres, a rebeldia <strong>de</strong> Gina a leva a<br />

concluir que não o ama e o sentimento que sobra é, <strong>por</strong> conseqüência, o ódio.<br />

No rancor, busca os motivos que justifiquem o sentimento agressivo, embora já<br />

tenha afirmado ao marido que o ama, que não gostaria <strong>de</strong> se separar e já<br />

tenha implorado que ele não a abandonasse.

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