Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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seu livro Teatro e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, publicado muitos anos mais tar<strong>de</strong>, quando calor<br />
dos acontecimentos há muito já tinha <strong>de</strong>saparecido, quando <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> já<br />
tinha morrido – <strong>por</strong>tanto, uma posição mais neutra e sem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
agra<strong>da</strong>r ninguém – falando sobre “três homens e três mulheres” 65 injustiçados<br />
em montagens antigas, lembra:<br />
130<br />
De <strong>Lúcio</strong>, nem é bom falar. Com Angélica,<strong>por</strong> exemplo – a vampira<br />
<strong>de</strong> almas –, o que se po<strong>de</strong>ria fazer em termos <strong>de</strong> espetáculo visual<br />
seria ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente fantástico. (LEITE, 1975:70)<br />
De qualquer forma, colhendo mais uma <strong>de</strong>cepção – observa-se pelo<br />
próprio número reduzido <strong>de</strong> artigos que o Autor conservou sobre esse drama –<br />
<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> abandonar o teatro: “Angélica marcou <strong>de</strong>finitivamente a<br />
minha última tentativa” (CARDOSO, 1970:126).<br />
4.5.2- O texto dramático<br />
A rubrica anuncia o cenário que o olhar do espectador encontra quando<br />
as cortinas se abrem:<br />
Quarto <strong>de</strong> dormir, com móveis antigos e gosto provinciano. Quadros<br />
e me<strong>da</strong>lhões nas pare<strong>de</strong>s – objetos <strong>de</strong> mau gosto sobre os móveis.<br />
Almofadões pelo chão e, junto a uma larga janela fecha<strong>da</strong>, um vasto<br />
espelho <strong>de</strong> moldura doura<strong>da</strong>. Sobre a cômo<strong>da</strong>, castiçais variados <strong>de</strong><br />
cristal e prata; pen<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong>s <strong>por</strong>tas e janelas, cortinas <strong>de</strong> gosto<br />
duvidoso. (CARDOSO, s/d:1) 66 .<br />
Tal como nos dramas anteriores, o cenário encerra significantes que<br />
indiciam os sentimentos ou com<strong>por</strong>tamentos <strong>da</strong>s personagens. São visíveis<br />
nele os sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência, presentes também em O Escravo e traço comum<br />
nos romances <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>. A história se passa “na província, numa<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> estreita e abafa<strong>da</strong>” (CARDOSO, s/d:29). Os índices <strong>de</strong> riqueza<br />
65<br />
Os <strong>de</strong>mais injustiçados seriam Heloísa Maranhão, Rachel <strong>de</strong> Queiroz, Maria Jacintha, Francisco<br />
Pereira <strong>da</strong> Silva e Aldomar Conrado.<br />
66<br />
Essa peça não foi publica<strong>da</strong> e encontra-se no Arquivo <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>, na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui<br />
Barbosa, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.