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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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eprovações que lhe dirigiram. Mas o fato é que, a partir <strong>de</strong> então, ele passaria<br />

a se <strong>de</strong>dicar à linha chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> “intimista” ou “introspectiva”.<br />

Na entrevista “Da imaginação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, já cita<strong>da</strong> em nota, <strong>Lúcio</strong><br />

queixa-se <strong>de</strong> ter recebido, <strong>por</strong> causa do novo livro, “<strong>por</strong> um lado a indiferença<br />

<strong>da</strong> crítica, <strong>por</strong> outro a mais brutal hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>”, <strong>de</strong> ter sido insultado <strong>por</strong> Eloy<br />

Pontes e pelo fato <strong>de</strong> que Jayme <strong>de</strong> Barros e Octávio Tarquínio se terem<br />

recusado a comentar o romance. Ain<strong>da</strong> segundo ele, apenas Octávio <strong>de</strong> Faria<br />

mostrou-se simpático aos novos caminhos. Transcrevo abaixo as linhas em<br />

que justifica sua intenção ao redigir o terceiro romance <strong>por</strong>que elas me<br />

interessam quanto ao seu teatro:<br />

— Creio que aí você terá a chave <strong>de</strong> “Luz no Sub-Sólo” (sic). Procurei<br />

<strong>de</strong>scobrir uma segun<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que para mim é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e cuja<br />

existência nos apercebemos sem, entretanto, po<strong>de</strong>r atingi-la. Quem não<br />

compreen<strong>de</strong> que há alguma coisa mais profun<strong>da</strong> <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> tudo isso<br />

que vemos, que sentimos e apalpamos? O mundo encerra em si um<br />

mistério <strong>de</strong>sconcertante. E quanto mais sentimos esse mistério – pelo<br />

apuro <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e do espírito, naturalmente – mais<br />

experimentamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> penetrá-lo, <strong>de</strong> fugirmos à reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

superficial, si (sic) assim po<strong>de</strong>rei me exprimir. A loucura é um dos meios<br />

<strong>de</strong> evasão, a arte, outro. O personagem <strong>de</strong> “Luz no Sub-Sólo” (sic)<br />

eva<strong>de</strong>-se <strong>por</strong> meio do assassinato. Deve haver uma quebra dos valores<br />

comuns para <strong>de</strong>scermos a um segundo plano on<strong>de</strong> as coisas<br />

apresentam o seu ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro sentido. É preciso fazer luz no sub-sólo<br />

(sic)! Tal o objetivo do meu livro, em que eu só po<strong>de</strong>ria ser conduzido<br />

pela imaginação, uma vez que a observação me forneceria apenas os<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> superficial que não me interessa, que não <strong>de</strong>ve<br />

interessar ao romancista... A minha concepção <strong>de</strong> romance vai assim<br />

<strong>de</strong> encontro ao <strong>da</strong> maioria dos romancistas mo<strong>de</strong>rnos, que preconizam<br />

uma arte <strong>de</strong> observação pura, a fotografia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Querem<br />

apanhar essa coisa que vemos aí e que na<strong>da</strong> exprime, <strong>por</strong>que a<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> está no sub-sólo (sic). Não os reconheço como romancistas,<br />

mas talvez como bons repórteres.<br />

<strong>Lúcio</strong> elege, <strong>por</strong>tanto, essa “segun<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>” como alvo <strong>de</strong> suas<br />

preocupações e a “quebra dos valores comuns” como o caminho para atingi-la,<br />

explicitando que apenas pela imaginação, “facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>moníaca”, seria<br />

possível trilhá-lo. Essas posições já advertem ao leitor que não procure nas<br />

obras cardosianas a estrita verossimilhança com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> empírica, que os<br />

seus mundos são representações simbólicas e que suas personagens movem-<br />

se numa linha limítrofe entre essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que conhecemos e o “subsolo”,<br />

que <strong>Lúcio</strong> imagina conter uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial e inapreensível pela<br />

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