13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

125<br />

ilumina a cena. Assur está sentado no chão <strong>da</strong> varan<strong>da</strong> e olha para<br />

fora. Manassés, sentado à mesa, bebe. De pé, vesti<strong>da</strong> com a túnica<br />

que é <strong>de</strong> um vermelho diferente, cintilante [presente <strong>de</strong> Assur], Aíla<br />

serve ao marido. (NASCIMENTO, 1961:66)<br />

O irmão mais velho estranha a roupa <strong>da</strong> esposa e pergunta se ela o<br />

abandonará um dia. Ela nega. Pergunta-lhe, então, se “seus olhos vêem outro<br />

homem” que não ele e ela torna a negar. Ele tece planos <strong>de</strong>, no futuro, comprar<br />

outras terras, trabalhar e <strong>de</strong> ficarem juntos até a morte. Por fim, ele tomba<br />

sobre a mesa.<br />

Ela dirige-se a Assur dizendo-lhe que é hora, mas o jovem recua sem<br />

coragem para consumar a morte do irmão. Aíla toma-lhe a faca e fere o marido<br />

cegamente. Manassés, chamado pelo Pai <strong>de</strong> “forte”, morre embriagado e<br />

apunhalado pelas costas. Assur afasta-se <strong>da</strong> mulher horrorizado.<br />

Neste momento, entra o Pai perguntando <strong>por</strong> Selene e Moab e <strong>de</strong>scobre<br />

que partiram. Assur, chorando, revela que a cunha<strong>da</strong> matou o irmão.<br />

PAI (trêmulo <strong>de</strong> cólera): Se o mataram juntos, <strong>por</strong>que (sic) não<br />

partem agora? (NASCIMENTO, 1961:69)<br />

Se, outrora, a lei era não abandonar a casa, nesse momento a punição<br />

imposta a Assur é <strong>de</strong>ixá-la com a mulher:<br />

Dia e noite estarão juntos, e tudo o que ela fizer, suas mãos ávi<strong>da</strong>s,<br />

seus olhos cruéis e fugitivos, seu sono agitado – tudo o (sic)<br />

lembrará o irmão sacrificado.<br />

(...)<br />

E pelo caminho do pecado que você abriu com a sua louca fantasia,<br />

caminharão juntos até que a morte os surpreen<strong>da</strong>. (NASCIMENTO,<br />

1961: 69)<br />

Partem dos dois e, novamente, há uma aceleração na passagem do<br />

tempo: a casa arruinou-se, a terra já não produz, o Pai envelheceu. Assur volta<br />

mais uma vez e, agora, seu retorno se harmoniza com o relato evangélico:<br />

volta “humil<strong>de</strong>, sozinho, vestindo-se como antigamente, buscando a<br />

reconciliação com o pai” (BRANDÃO:1998:74). Explica que Aíla seguiu com um<br />

rico mercador e que ele está <strong>de</strong>cidido a ficar para sempre:<br />

Só agora sei que não adianta partir. A terra que per<strong>de</strong>mos, não é ela<br />

que estua e aquece o nosso coração? Sem ela, não era eu um ser

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!