13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>da</strong> ingratidão <strong>de</strong> todos e do abandono a que a ameaçam. As ofensas crescem<br />

e ele a acusa <strong>de</strong> ter matado as outras jovens:<br />

137<br />

É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que não posso, legalmente, dizer que ela matou as outras,<br />

mas sugou-as minuto <strong>por</strong> minuto, obsorveu-as (sic) com o coração<br />

tremulo (sic) e a alma cheia <strong>de</strong> ódio. Arrebatou <strong>de</strong>sses pobres seres<br />

inertes a coragem <strong>de</strong> viver, sufoco-as (sic) na inércia e na falta <strong>de</strong><br />

esperança. Assim consegui (sic) trans<strong>por</strong> para a sua todo o calor que<br />

alimentava aquelas almas, até que <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ça<strong>da</strong>s, elas tombaram<br />

como frutos apodrecidos.<br />

(...)<br />

Não percebeu ain<strong>da</strong> que isto é que a faz remoçar, que torna<br />

su<strong>por</strong>tável esta carcassa (sic) recoberta pelo seu falso verniz?<br />

(CARDOSO, s/d: 55-56)<br />

Lídia sai <strong>de</strong> cena, vai buscar as coisas para partir. Nesse momento, os<br />

diálogos são reveladores <strong>da</strong> cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> anteriormente referi<strong>da</strong>:<br />

LEÔNCIO (irônico): Mas para si na<strong>da</strong> está perdido ain<strong>da</strong>: há muitas<br />

moças. Po<strong>de</strong>rá chamar uma e sugar <strong>de</strong>la a energia que lhe é<br />

necessária. Eu não proíbo o seu crime.<br />

ANGÉLICA (friamente): Que me proíbe você?<br />

LEÔNCIO: Que <strong>de</strong>strua essa moça.<br />

ANGÉLICA: Porque (sic) essa, precisamente essa? Outras não<br />

passaram <strong>por</strong> aqui, não <strong>de</strong>sapareceram?<br />

LEÔNCIO (em voz baixa): Mas esta é a que eu amo.<br />

[...]<br />

ANGÉLICA: Você não me engana: queria apenas <strong>de</strong>vorá-la antes <strong>de</strong><br />

mim.<br />

LEÔNCIO: Sua linguagem me dá arrepios.<br />

ANGÉLICA: Devia estar acostumado, somos <strong>da</strong> mesma família. Ou<br />

você já se esqueceu que é um pouco mais do que um lacaio?<br />

(CARDOSO, s/d:59-60)<br />

Vendo que o capataz mantém firme o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> partir, Angélica<br />

mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> tática e tenta seduzi-lo. Ele a repudia: “A senhora sempre me causou<br />

horror: se a beijasse, pensaria que estava beijando um rosto feito com os<br />

restos <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as moças mortas nesta casa” (CARDOSO, s/d: 64). Lídia volta<br />

e, refutando as últimas tentativas <strong>da</strong> dona <strong>da</strong> casa, partem os dois.<br />

Como é possível <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r dos diálogos, Leôncio é um parente<br />

distante <strong>de</strong> Angélica. Ele alcançava gratificação junto a Lídia através do<br />

voyeurismo que, segundo Anne Rice 67 , é um dos maiores prazeres do vampiro.<br />

67 RICE Apud: SILVA, 2002: 14.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!