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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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aspirações (conviver com as pessoas, como <strong>de</strong>seja Isabel ou <strong>de</strong>ixar a casa,<br />

como i<strong>de</strong>aliza Marcos) não concretizam a reconstrução <strong>de</strong> seus mundos. O que<br />

Augusta diz em relação ao irmão (todos os seus sentimentos estão<br />

aprisionados a uma forma inexistente. O que existe <strong>de</strong> real, nele, pertence à<br />

sua infância – e há muito que esta não existe mais. – CARDOSO, 1973:39)<br />

serve para todos. Falta-lhes um objetivo com que possam preencher o vazio do<br />

tempo e, <strong>por</strong> isso, são torturados pela “eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidiana”: pela repetição<br />

incessante do já vivido e já sentido, representa<strong>da</strong> formalmente pela repetição<br />

<strong>da</strong>s falas.<br />

As personagens figuram seres impotentes, que não sabem para on<strong>de</strong><br />

canalizar sua revolta e que não conseguem transformar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

construíram para si <strong>por</strong>que, sequer, alcançam estruturar as próprias<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma sadia. Nessa impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, resi<strong>de</strong> a angústia que<br />

os domina e que, legando-lhes apenas a dor, a vingança e o abandono, leva-os<br />

à ruína.<br />

São seres isolados, oscilantes entre os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição (através<br />

<strong>da</strong> imposição sádica <strong>da</strong>s vonta<strong>de</strong>s) e auto<strong>de</strong>struição (na aceitação masoquista<br />

do sofrimento, na <strong>clausura</strong> em que se isolam, no ódio que cultivam, na<br />

frustração que se impõem), que são duas faces <strong>de</strong> uma mesma moe<strong>da</strong> e que<br />

não existem separa<strong>da</strong>mente. Destruindo aos outros ou a si mesmos, os<br />

<strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> morte são o com<strong>por</strong>tamento normal nesse<br />

cotidiano familiar.<br />

Os relacionamentos fazem-se lutas incessantes que possibilitam a<br />

gratificação (tem<strong>por</strong>ária) no domínio sobre o outro, que necessita ser sempre<br />

renovado, e <strong>por</strong> isso eles reagem agressivamente à proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> afetiva. O<br />

impulso erótico, que é união e diluição <strong>da</strong>s diferenças, atemoriza-os <strong>por</strong>que o<br />

percebem como “apagamento” <strong>da</strong>s individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s não-constituí<strong>da</strong>s –<br />

provavelmente <strong>por</strong> isso Lisa escolheu casar-se com Silas: suas agressões,<br />

constituindo o impulso tanático, asseguravam que ain<strong>da</strong> existia separa<strong>da</strong>,<br />

“individualiza<strong>da</strong>”, não “mistura<strong>da</strong>” ou perdi<strong>da</strong> no Outro.<br />

Temerosas como ela, as <strong>de</strong>mais personagens afastam a ameaça do<br />

apagamento (morte) que a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> erótica pro<strong>por</strong>ciona procurando se<br />

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