Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
estão, dogmáticos e estúpidos, os críticos [...] que não hesitam em apontar a<br />
causa do fracasso no drama mal apreendido, mal <strong>de</strong>corado e mal assimilado”<br />
(CARDOSO, 1970: 128).<br />
129<br />
Após a estréia, Sábato Magaldi escreve dois artigos 63 sobre a peça. Em<br />
“Angélica I” <strong>de</strong>fine: “Angélica é o estudo <strong>de</strong> um temperamento vigoroso, que se<br />
alimenta dos seres aniquilados <strong>por</strong> seu po<strong>de</strong>r asfixiante e <strong>de</strong>struidor” e aponta<br />
que o drama “<strong>de</strong>senvolve a psicologia <strong>de</strong> um ser na fronteira <strong>da</strong> loucura” que<br />
mergulha no <strong>de</strong>sespero. Associa a protagonista à personagem homônima <strong>de</strong> A<br />
professora Hil<strong>da</strong> (novela <strong>de</strong> 1946) 64 :<br />
Tipos noturnos, loucos aparentemente lúcidos, que vivem a<br />
normali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos outros <strong>de</strong>stinos, mas estão possuídos <strong>de</strong> uma força<br />
à parte, <strong>de</strong>sagregadora e terrível.<br />
O crítico ain<strong>da</strong> observa que Angélica, como Gina <strong>de</strong> A Cor<strong>da</strong> <strong>de</strong> Prata,<br />
concentra to<strong>da</strong>s as atenções do drama, sendo a personagem mais<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>: “<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> fez dos outros personagens o pano <strong>de</strong> fundo em<br />
que se <strong>de</strong>veria realizar o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Angélica. Ela é a criatura narra<strong>da</strong> em to<strong>da</strong><br />
a sua pujança”.<br />
Em “Angélica II”, Magaldi elogia a linguagem <strong>da</strong> peça, “vaza<strong>da</strong> em<br />
padrão literário poucas vezes atingido nos textos <strong>de</strong> hoje” e a escolha do tema,<br />
“gênero quase nunca visitado pelos nossos autores”. Contudo, o diálogo “se<br />
tem frases <strong>de</strong> belo conteúdo poético, ele não se ajusta em alguns momentos à<br />
fluência natural <strong>da</strong> conversa” – crítica comum ao teatro cardosiano, como já foi<br />
possível observar. Ele termina assinalando que o teatro on<strong>de</strong> a peça foi<br />
apresenta<strong>da</strong> não favoreceu a apresentação do elenco e a direção <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> é<br />
discretamente critica<strong>da</strong>. Apesar dos pontos negativos assinalados, ele conclui<br />
dizendo que Angélica “tem um lugar <strong>de</strong>finitivo em nossa <strong>literatura</strong> <strong>dramática</strong>”.<br />
Essa também é a opinião <strong>de</strong> Luíza Barreto Leite, que já tinha<br />
interpretado a Augusta <strong>de</strong> O Escravo e que foi a protagonista <strong>de</strong> Angélica. Em<br />
63 Artigos arquivados sem indicação <strong>de</strong> fonte ou <strong>de</strong> <strong>da</strong>ta, e que fazem parte do Arquivo do Autor<br />
disponível na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
64 A aproximação é respal<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo próprio autor que, em Prefácio à novela, também aproxima Hil<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
Angélica, I<strong>da</strong> (Mãos vazias), Aurélia (O <strong>de</strong>sconhecido), Augusta e Marcos (O Escravo) e o <strong>de</strong>sconhecido<br />
(O <strong>de</strong>sconhecido), o que indica que <strong>Lúcio</strong> tinha plena consciência <strong>da</strong>s semelhanças entre suas<br />
personagens.