Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

para casa e, simulando com empregada as mesmas ações, telefona-lhe para
se certificar de que está onde ela imagina. Revista suas coisas, sonda suas
palavras e, embora tudo indique que ele lhe é fiel (e é), ela está convicta de
que é traída. Escreve um livro de poemas que, às escondidas, publica como
Maria do Céu e dedica-lhe um poema, “Amor”. Envia-lhe um exemplar e, sendo
a crítica elogiosa, conclui que ele a trai porque ama Maria do Céu – que é ela
mesma.
Para confirmar seu ponto de vista, Lainha pede que Madalena, uma
amiga de infância agora viúva, finja ser Maria do Céu. Arrependida, mais tarde,
de ter aceitado a trapaça e apiedada da situação do marido, Madalena acaba
por revelar a verdade a Artur e descobre-se apaixonada por ele.
Nesse ínterim, a situação do casal já está muito abalada. Lainha
contratou um detetive para seguir Artur. Desconfiada do profissional, também
paga uma cigana (que lê a sua sorte e sempre confirma que há outra mulher no
caminho do marido) para fazer o mesmo trabalho. E passa o tempo a escrever
cartas anônimas para todos com quem ele se relaciona acusando-o de ser um
sedutor sem honra, frustrando seus planos de publicar um romance que “as
mulheres vão ler” (VIANNA, 1934:63) – na visão de Lainha, mais uma “prova”
de que Artur a trai.
Com a atitude de Madalena de desmascarar a farsa de Maria do Céu,
Artur acaba se separando de Lainha e deixa a casa, seguindo para o Rio para
onde também vai Madalena. Artur e ela estão apaixonados, mas decidem
renunciar ao afeto. Lainha vai atrás de Artur, jura que mudou, que as coisas
serão diferentes e que serão felizes. Ele concorda em voltar para casa se ela
mantiver as promessas que fez. Enquanto ele sai para atender ao telefone, a
esposa revista o quarto e acaba encontrando cartas de Madalena. Com elas na
mão, chantageia a antiga amiga exigindo que ela lhe entregue as cartas que
Artur escreveu e, conseguindo, comemora:
LAINHA: (...) Embarcamos para São Paulo, mas não humildemente
como ele pretende. Não! Ele irá comigo, mas para ser como era,
como quero que seja, meu, submisso, humilde, dócil, inferior, vivendo
exclusivamente para mim, não pensando senão em mim! E se não
quiser sujeitar-se, estão aqui as provas para um processo ruidoso de
adultério, dentro das leis do nosso código penal. Escândalo. Jornais.
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