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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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<strong>dramática</strong> foi abalado <strong>por</strong>que, como venho <strong>de</strong>lineando, a relação intersubjetiva<br />

foi substituí<strong>da</strong> pela exploração <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> interior, a atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> tem<strong>por</strong>al foi<br />

relativiza<strong>da</strong>, e o diálogo tradicional tornou-se inviável. Autores como Ibsen,<br />

Tchékhov, Strindberg, Maeterlink e Hauptmann, nas diferentes opções<br />

temáticas que escolheram, fizeram parte <strong>de</strong>sse momento <strong>de</strong> transição:<br />

151<br />

O problema <strong>de</strong> Ibsen é a representação do tempo passado e<br />

interiormente vivido em uma forma poética que não conhece a<br />

interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> senão em sua objetivação, que não conhece o tempo<br />

senão em seu momento presente. Ele o soluciona inventando<br />

situações em que os homens passam a ser juiz <strong>de</strong> seu próprio<br />

passado rememorado e o colocam <strong>de</strong>sse modo na abertura do<br />

presente. O mesmo problema se põe Strindberg em Sonata dos<br />

espectros. Ele é resolvido pela introdução <strong>de</strong> uma personagem que<br />

tem conhecimento sobre to<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>mais e po<strong>de</strong> assim, no interior<br />

<strong>da</strong> fábula <strong>dramática</strong>, tornar-se o seu narrador épico. Os homens <strong>de</strong><br />

Maeterlink são vítimas mu<strong>da</strong>s <strong>da</strong> morte. A cena <strong>dramática</strong> <strong>de</strong> Interior<br />

mostra-os como personagens mu<strong>da</strong>s na parte interna <strong>da</strong> casa. O<br />

diálogo, que as toma <strong>por</strong> objeto, é mantido <strong>por</strong> duas figuras que as<br />

observam <strong>da</strong> janela. Em Antes do nascer do sol, Hauptmann faz com<br />

que os homens a serem representados recebam a figura <strong>de</strong> um<br />

estranho. Em Os tecelões, os diversos atos representam situações<br />

narrativas ou <strong>de</strong> revista. Por fim, Tchékhov soluciona o problema <strong>de</strong><br />

representar a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do diálogo na forma dialógica do drama<br />

ao introduzir um surdo e <strong>de</strong>ixar que os homens falem sem se<br />

enten<strong>de</strong>rem. (SZONDI, 2001:94)<br />

Portanto, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> suas diferenças, uma peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> aproxima<br />

esses autores: para resolver as cita<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, surgem em suas obras<br />

elementos característicos do gênero épico que contaminam essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>dramática</strong>. Particularmente, interessa a essa Tese o fato <strong>de</strong> que a narração<br />

ocupa o lugar <strong>da</strong> ação quando o passado substitui o presente, tempo do drama<br />

<strong>por</strong> excelência. Como não é possível representá-lo (o passado), ele só po<strong>de</strong> vir<br />

à cena através <strong>da</strong> rememoração, o que provoca o abalo na relação<br />

intersubjetiva e transtorna o diálogo. Diz Szondi sobre a opção <strong>de</strong> representar a<br />

vi<strong>da</strong> interior <strong>da</strong> personagem, como almeja Ibsen:<br />

... sua representação direta é absolutamente impossível. E ela [essa<br />

temática] requer a técnica analítica não só para obter uma maior<br />

<strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sendo na essência matéria <strong>de</strong> romance, ela só po<strong>de</strong><br />

ganhar o palco graças a essa técnica. Mas mesmo assim, ela [a<br />

temática] permanece, em última instância, estranha a ele [ao palco]...<br />

ela continua exila<strong>da</strong> no passado e na interiori<strong>da</strong><strong>de</strong>. (SZONDI,<br />

2001:44, grifo meu)

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