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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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força <strong>da</strong> sua recor<strong>da</strong>ção, pelo que sofreram <strong>de</strong>le, pela cega nostalgia<br />

<strong>de</strong>ssa emoção que tanto as fez vibrar outrora.<br />

(...)<br />

É preciso dizer que esta consciência povoa<strong>da</strong> <strong>de</strong> pressentimentos e<br />

lembranças foi você quem criou, nasceu do seu próprio terror e <strong>da</strong><br />

sua ânsia <strong>de</strong> dominar (CARDOSO, 1973:52).<br />

Suas palavras prosseguem no mesmo tom, conduzindo a uma<br />

conclusão que inverte o papel que Silas vinha ocupando até então na trama: <strong>de</strong><br />

causador dos problemas ele passa a “protetor”, que impedia a influência <strong>de</strong><br />

Augusta sobre os <strong>de</strong>mais, e atribui a ela a infelici<strong>da</strong><strong>de</strong> pela vi<strong>da</strong> que<br />

construíram:<br />

(...) Quero apenas lembrar que, mal tínhamos nos libertado do<br />

domínio <strong>de</strong> Silas, já sentíamos <strong>de</strong> novo dois olhos ávidos que nos<br />

ron<strong>da</strong>vam e o esforço <strong>de</strong>ssa vonta<strong>de</strong> que procurava se im<strong>por</strong><br />

ferozmente, tanto mais que dormira até aquele minuto, subjuga<strong>da</strong><br />

pelo medo. Só aí compreen<strong>de</strong>mos o perigo que a presença <strong>de</strong> Silas<br />

havia afastado. Era ele o único que estava à sua altura, o único que<br />

sabia lutar com as mesmas armas que você usava. E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então<br />

começarmos a repassar as mesmas emoções já vivi<strong>da</strong>s, procurando<br />

um apoio, um meio qualquer <strong>de</strong> escapar a essa lenta conquista. Foi<br />

esta idéia que se converteu para mim numa obcessão (sic).<br />

(CARDOSO, 1973:53)<br />

É o momento em que caem to<strong>da</strong>s as máscaras. Abandonando a postura<br />

que vinha adotando até então, e <strong>de</strong> maneira serena, Augusta admite que o<br />

irmão está certo, mas não vê utili<strong>da</strong><strong>de</strong> nas acusações. Afirma que ele não<br />

po<strong>de</strong>rá escapar <strong>por</strong>que ela conhece todos os seus segredos, não há refúgio<br />

para ele.<br />

(...) Você me seguirá como um escravo. Quando estiver sozinho,<br />

lembrar-se-á <strong>de</strong> que estou presente à elaboração dos seus<br />

pensamentos mais íntimos. Se estiver dormindo, surgirei implacável<br />

nos seus sonhos. Ca<strong>da</strong> gesto que fizer, ca<strong>da</strong> emoção que germinar<br />

no seu coração, <strong>de</strong> tudo eu saberei, para mim a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> inteira<br />

estará sempre grava<strong>da</strong> nos seus olhos.<br />

(...)<br />

Sim, você jamais se livrará <strong>de</strong> mim. Não passará nunca <strong>de</strong> um corpo<br />

sem sombra, <strong>de</strong> uma voz sem eco, <strong>de</strong> um espectro igual a Isabel.<br />

Ambos são do mesmo sangue, nasceram para o mesmo fim.<br />

(CARDOSO, 1973:54)<br />

Tal grau <strong>de</strong> violência era, se não inédito, muito raro nas relações<br />

familiares tematiza<strong>da</strong>s na Literatura Brasileira até então. O ódio, contudo, é um<br />

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