Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Esse fascínio pela violência e pelo terror são tão fortes no Autor que o
levam a admirar, em Jean Genet, características que estão na sua própria
obra:
A um homem despido de objeção e mecanizado no seu mundo de
virtudes burguesas e sem viço, opõe com toda a sua pujança seus
sombrios e fascinantes criminosos (...) são testemunhas da sombra,
da existência do pecado, do mal entranhado na natureza do homem
– e compondo-o, apesar de tudo. (CARDOSO, 1970:195)
Essa é a justificativa para a criação de tantas situações em que os
limites da “decência” e da “compostura”, que norteavam o bom-gosto, foram
ultrapassados; em seu lugar, subiram ao palco o excesso, a desmedida, as
transgressões que deveriam, como numa “pedagogia do terror”, prevenir os
comportamentos julgados indesejados nos novos tempos. Nesse sentido
estrito, os dramas de Lúcio (bem como toda a sua obra) se aproximavam das
intenções originais do drama burguês. Segundo SZONDI, o drama original teria
uma finalidade educativa e moralizante:
... a história que o drama burguês narra deve ser um exemplo para a
própria conduta na vida, isto é, um exemplo negativo. Ela deve nos
precaver de nos tornarmos culpados ou, se já somos, ele deve nos
curar. (SZONDI, 2004:53)
E, se o teatro cardosiano não conseguiu ultrapassar os limites formais
do drama para representar, com plena expressão formal, o que sua temática
intimista exigia, essa produção compõe e reforça as obsessões de uma poética
atormentada, que insiste nos aspectos mórbidos de um universo de
confinamento, de personagens solitárias porque não conseguem ultrapassar o
ressentimento de que se nutrem e construir para si mesmas outras realidades
de vida. Sua obra marca uma visão agônica que vai encontrar, de forma
aprimorada e com temáticas mais desenvolvidas, uma continuidade na escrita
de Clarice Lispector, como indiciei em algumas notas de rodapé do quarto