Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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<strong>de</strong>vido exclusivamente ao sucesso <strong>de</strong> “Vestido <strong>de</strong> Noiva”. Lembrome<br />
<strong>de</strong> que, concluí<strong>da</strong> “Angélica”, entreguei-a a um dos diretores do<br />
grupo que me <strong>de</strong>clarou não ser possível montá-la <strong>por</strong> não constituir<br />
uma peça gênero “gran<strong>de</strong> espetáculo”. Semelhante convenção<br />
levou-me a idéia <strong>de</strong> criar um grupo pequeno, que montasse peças<br />
com poucos personagens, sem auxílio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> maquinaria.<br />
Clarice Lispector, em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1947, diz que o Teatro <strong>de</strong> Câmera<br />
mostra que o autor mineiro “está jovem do mesmo jeito” 40 e, aten<strong>de</strong>ndo ao<br />
pedido do gran<strong>de</strong> amigo, escreve:<br />
Os autores, cenaristas e artistas que trabalham para o “Teatro <strong>de</strong><br />
Câmera” asseguram a realização <strong>de</strong> seu propósito – fazer o gesto<br />
recuperar o seu sentido, a palavra o seu tom insubstituível, permitir<br />
que o silêncio, como na boa música, seja também ouvido, e que o<br />
cenário não se limite ao <strong>de</strong>corativo e nem mesmo à moldura apenas<br />
– mas que todos esses elementos, aproximados na sua pureza<br />
teatral específica, formem a estrutura indivisível <strong>de</strong> um drama.<br />
A iniciativa <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> é igualmente bem recebi<strong>da</strong> pelos outros amigos<br />
literatos e também no meio artístico a idéia colheu aplausos. Esther Leão,<br />
escolhi<strong>da</strong> <strong>por</strong> <strong>Lúcio</strong> para dirigir os ensaios, conseguiu empreen<strong>de</strong>r contato com<br />
Maria Sampaio e ofereceu-se para interce<strong>de</strong>r junto ao grupo Severiano Ribeiro<br />
a fim <strong>de</strong> obter o Teatro Glória às segun<strong>da</strong>s-feiras e <strong>por</strong> um preço pequeno.<br />
Contando com a intercessão <strong>de</strong> Leonardo Pessoa Lopes, Severiano Ribeiro<br />
ce<strong>de</strong>u o Teatro Glória “sem ônus <strong>de</strong> qualquer espécie e ain<strong>da</strong> mais com duas<br />
bilheterias, o pessoal <strong>de</strong> palco e platéia (...)” (DORIA, 1975: 125) para aten<strong>de</strong>r<br />
ao grupo no que precisassem.<br />
Quanto aos atores, gran<strong>de</strong>s nomes como Maria Sampaio, Luíza Barreto<br />
Leite e Maria Paula recusaram-se a receber qualquer remuneração. Outros,<br />
tanto amadores como profissionais, embarcaram na aventura dispostos a<br />
receber cachê quando houvesse saldo na bilheteria. A todos, irmanava a idéia<br />
<strong>de</strong> promover o autor brasileiro <strong>de</strong> teatro. Para os cenários e figurinos, o “Teatro<br />
<strong>de</strong> Câmera” congregava Santa Rosa, Roberto Burle Marx, Sansão Castelo<br />
Branco, Van Regger, Belá Paes Leme, João Maria dos Santos e O<strong>de</strong>te Santos.<br />
40 Ambos os <strong>de</strong>poimentos estão registrados em cartas no Arquivo <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong>, na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong><br />
Rui Barbosa, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
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