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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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a existência. Nessa concepção, sustenta-se o conceito <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>: o homem<br />

é aquilo que faz <strong>de</strong> si sem que nenhum projeto anterior ou transcen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>termine sua escolha, que só po<strong>de</strong> ser justifica<strong>da</strong> <strong>por</strong> ele mesmo.<br />

105<br />

Lembrando sua vinculação i<strong>de</strong>ológica alinha<strong>da</strong> ao grupo que contava<br />

com Otávio <strong>de</strong> Faria e Cornélio Pena, é possível que, neste drama, <strong>Lúcio</strong><br />

quisesse <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a idéia <strong>de</strong> que a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta é loucura, uma opção<br />

inviável, e que Deus é a melhor resposta para a angústia <strong>de</strong> existir.<br />

Cumpre observar que, a esse contexto “filosófico” junta-se, no caso <strong>de</strong><br />

Gina, uma circunstância histórica inegável: a situação <strong>da</strong> mulher no Brasil,<br />

sobretudo no interior do país. A protagonista percebe a vi<strong>da</strong> conjugal como<br />

uma prisão, “um inferno que criaram para mulheres”. Reagindo à situação, ela<br />

não bor<strong>da</strong> <strong>por</strong>que repudia o com<strong>por</strong>tamento submisso <strong>da</strong> mãe; não aceita suas<br />

“obrigações” <strong>de</strong> esposa nem os “direitos” do marido. É uma mulher que se<br />

recusa a cumprir o papel social que era <strong>de</strong>stinado às esposas <strong>de</strong> então. 52 As<br />

falas em que Renato menciona seus direitos <strong>de</strong> marido ou os <strong>de</strong>veres <strong>de</strong>la<br />

como esposa:<br />

Você precisa compreen<strong>de</strong>r que se casou comigo e que <strong>por</strong>tanto <strong>de</strong>ve<br />

aceitar certas obrigações. (DESAPONTADO) (CARDOSO, s/d:7)<br />

Está certo, Gina. Não tenho o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassar seus segredos,<br />

mas não se esqueça também <strong>de</strong> que sou o seu marido. Seus<br />

<strong>de</strong>veres, afinal... (CARDOSO, s/d: 60-61)<br />

têm, como resposta imediata, a irritação extrema<strong>da</strong> <strong>da</strong> protagonista. E a réplica<br />

<strong>de</strong>la ao médico, quando ele questiona se ama o marido, atesta isso:<br />

(DEPOIS DE LIGEIRA PAUSA) Sim, amo ao meu marido. Mas não o<br />

amaria mais, no dia em que o sentisse como um impecilho (sic) à<br />

minha vonta<strong>de</strong>. (CARDOSO, s/d:.56)<br />

Questiona<strong>da</strong> sobre o que seria essa vonta<strong>de</strong> que tanto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, ela,<br />

reafirmando a aproximação com as idéias filosóficas anteriormente referi<strong>da</strong>s,<br />

explica:<br />

52 Esse ponto será <strong>de</strong>sdobrado mais tar<strong>de</strong>, no capítulo 5 <strong>de</strong>sta Tese, através <strong>de</strong> um cotejo entre este drama<br />

e uma novela <strong>de</strong> 1938, Mãos Vazias, cuja temática é a mesma que esbocei aqui.

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