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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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suas falas dizem e redizem as mesmas coisas) enquanto elas vegetam na<br />

inação. Em A Cor<strong>da</strong> <strong>de</strong> Prata, acontece um problema semelhante. O primeiro<br />

ato <strong>de</strong>dica-se quase inteiramente, através <strong>da</strong> conversa entre o marido e a<br />

emprega<strong>da</strong> e entre ele e o médico, a <strong>de</strong>senhar para o espectador o perfil <strong>de</strong><br />

Gina, fazendo do presente apenas um pretexto para evocar o passado <strong>da</strong><br />

protagonista.<br />

144<br />

Em terceiro lugar, para alcançar o que almejava, <strong>Lúcio</strong> precisou se<br />

concentrar em sua personagem central intensificando-a ao máximo, <strong>por</strong>que<br />

não é cabível representar várias “vi<strong>da</strong>s psíquicas” num mesmo palco <strong>da</strong><br />

mesma forma que, num romance <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> consciência, não são possíveis<br />

vários fluxos simultâneos sob pena <strong>de</strong> enfraquecer a representação que se<br />

almeja alcançar: muitos focos acabam <strong>por</strong> diluir a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> do conflito que se<br />

preten<strong>de</strong> enfocar. Esse é um dos problemas <strong>de</strong> O Filho Pródigo que, como se<br />

enumerou acima, procurou explorar as reações <strong>de</strong> várias personagens ao<br />

longo <strong>da</strong> peça e acabou não tendo sucesso com nenhum <strong>de</strong>les.<br />

Consi<strong>de</strong>rando, entretanto, A Cor<strong>da</strong> <strong>de</strong> Prata e Angélica, essa<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> explica as críticas dirigi<strong>da</strong>s tanto a Gina quanto a Angélica <strong>de</strong>,<br />

como protagonistas, serem as únicas personagens efetivas <strong>da</strong>queles dramas<br />

cardosianos, ao passo que as <strong>de</strong>mais não passariam <strong>de</strong> meros esboços no<br />

contexto dos dramas.<br />

Por outro lado, e po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar este o quarto ponto problemático<br />

<strong>da</strong> opção cardosiana, essa hipertrofia <strong>de</strong> uma personagem acaba <strong>por</strong> acarretar<br />

a supressão <strong>da</strong> relação intersubjetiva – já que não há nenhum personagem<br />

capaz <strong>de</strong> contracenar à altura com o protagonista – e, <strong>por</strong> conseqüência, <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do diálogo, que se <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>ça.<br />

Como mostra SZONDI (2001), a inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do diálogo é índice <strong>da</strong><br />

crise do drama mo<strong>de</strong>rno. Para tentar remediar essa situação, uma <strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s<br />

encontra<strong>da</strong>s <strong>por</strong> dramaturgos europeus foi o apelo às chama<strong>da</strong>s “peças <strong>de</strong><br />

conversação” que “giram em torno <strong>de</strong> questões como o direito <strong>de</strong> voto para as<br />

mulheres, amor livre, direito <strong>de</strong> divórcio, mesaliance, industrialização e<br />

socialismo.” (SZONDI, 2001:106). Aqui no Brasil, sob a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> “teatro<br />

<strong>de</strong> idéias” e com temáticas muito mais mo<strong>de</strong>stas, elas aparecem na produção

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