13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Lisa ain<strong>da</strong> questiona se não po<strong>de</strong>riam vencer esta “sombra” que se<br />

interpunha entre eles e Marcos diz que, para ele, não há saí<strong>da</strong>. A mulher<br />

revolta-se exigindo-lhe uma reação a esta “escravidão” e acusando-o <strong>de</strong><br />

fraqueza.<br />

(Amargamente) Afinal a ven<strong>da</strong> tombou dos seus olhos, Lisa. Pela<br />

primeira vez na sua vi<strong>da</strong>, você está me vendo, sou uma figura real<br />

aos seus olhos, um ser, não uma simples projeção. (CARDOSO,<br />

1973:46)<br />

Ironicamente, é justamente Marcos, que passou cinco anos internado<br />

num sanatório, o mais sensato entre to<strong>da</strong>s as personagens. Suas palavras<br />

para Lisa e, a seguir, sua conversa com Augusta farão tombar <strong>de</strong> vez as<br />

máscaras familiares sob as quais os sentimentos se refugiaram <strong>por</strong> tanto<br />

tempo.<br />

Augusta entra em cena afirmando que está preocupa<strong>da</strong> com o futuro do<br />

irmão e <strong>de</strong> todos naquela casa. E que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito refletir, teria encontrado<br />

a solução i<strong>de</strong>al: o casamento entre Marcos e Lisa. O rapaz rejeita a idéia e<br />

acusa-a <strong>de</strong> estar agindo pensando apenas em si mesma. Indigna<strong>da</strong>, Augusta<br />

queixa-se <strong>de</strong> ingratidão. Marcos afirma que ela não agiu em seu socorro <strong>por</strong><br />

pie<strong>da</strong><strong>de</strong> e lembra-lhe que o ressentimento em que se per<strong>de</strong> não foi causado<br />

<strong>por</strong> ele.<br />

É inútil escon<strong>de</strong>r, Augusta, bem sabemos que é <strong>de</strong> Silas que você<br />

procura se vingar. Sim, alguém <strong>de</strong>struiu a sua moci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas não<br />

fomos nós e sim ele.<br />

(...)<br />

Você não soube esquecer, não soube perdoar. Esta febre, este<br />

sentimento <strong>de</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, este insensato furor <strong>de</strong> viver é o<br />

sintoma mais nítido <strong>de</strong> que não há nenhuma paz no seu coração. E<br />

<strong>por</strong>que você não soube perdoar, não há perdão para si mesma:<br />

lutará até ser aniquila<strong>da</strong>. (CARDOSO, 1973:51)<br />

Augusta reage acusando-o <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírios e <strong>de</strong> não ser capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

<strong>por</strong> seus atos. Insiste quanto ao casamento enquanto Marcos prossegue nas<br />

acusações:<br />

Para você ele existe, fixado para sempre num sentimento que<br />

perdura através dos anos. Lisa também não o esqueceu, mas <strong>por</strong><br />

motivo diferente. Se agora ambas estão reuni<strong>da</strong>s nesta sala, é pela<br />

83

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!