Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
egimes censórios” que o país já conheceu (PRADO, 2003:33) proibindo-se<br />
mesmo qualquer menção à Guerra <strong>de</strong> que o Brasil já participava.<br />
Por outro lado, a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30 marcou-se <strong>por</strong> uma “re<strong>de</strong>scoberta do<br />
Brasil”. O país virou o gran<strong>de</strong> tema <strong>de</strong> estudo – a “reali<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional” foi um<br />
dos conceitos-chave dos estudos <strong>de</strong> então – e, sem ir muito longe, é fácil<br />
lembrar obras i<strong>de</strong>ologicamente tão diferentes (mas tão o<strong>por</strong>tunas) como as <strong>de</strong><br />
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque <strong>de</strong> Hollan<strong>da</strong> e Caio Prado Jr. que marcaram o<br />
período:<br />
A Revolução, se não foi suficientemente longe para romper as<br />
formas <strong>de</strong> organização social, ao menos abalou as linhas <strong>de</strong><br />
interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira – já arranha<strong>da</strong>s pela<br />
intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que emergia em 1922, com a Semana <strong>de</strong> Arte<br />
Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> um lado, e com a fun<strong>da</strong>ção do Partido Comunista, <strong>de</strong><br />
outro. (MOTA, 2002:28)<br />
É preciso assinalar o gran<strong>de</strong> esforço <strong>por</strong> parte do Governo em<br />
centralizar as preocupações do período na questão do “nacional”. Esse<br />
conceito unificador diluía, no plano simbólico, os conflitos sociais e <strong>da</strong>va<br />
prosseguimento ao projeto <strong>de</strong> “construção <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>” interrompido na<br />
Primeira República pelo Estado liberal. Sobretudo durante o Estado Novo, o<br />
“nacional”, enfatizando o conjunto e o uníssono, garantia a <strong>de</strong>sejável imagem<br />
<strong>de</strong> harmonia social.<br />
Na contramão do projeto governamental, a Literatura não se <strong>de</strong>dicou ao<br />
“nacional”, mas ao “regional”. Ca<strong>da</strong> artista se voltou para um aspecto que lhe<br />
parecia problemático no país e, nesse movimento, opunha-se vigorosamente à<br />
visão totalizadora (e totalitária) <strong>de</strong> Vargas. Destacando, ca<strong>da</strong> um à sua<br />
maneira, um problema e uma região, os artistas não contribuíam para a<br />
construção <strong>de</strong> um conceito unificado <strong>de</strong> nação. Mesmo os autores intimistas,<br />
como <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> – assinala Bueno (2001) – vão se beneficiar do “regional”:<br />
sabe-se que o romancista mineiro tem seus textos vinculados ao ambiente <strong>da</strong>s<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>zinhas do interior mineiro 3 .<br />
3 “Outros estarão na Europa e, à ciência local, unirão o conhecimento clássico do Velho Mundo. Ah, mas<br />
que im<strong>por</strong>ta: sou feito <strong>da</strong> visão <strong>de</strong>ssas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s pequenas, <strong>de</strong> seu pequeno sol, <strong>de</strong> sua pequena vi<strong>da</strong>. Não<br />
que elas se incor<strong>por</strong>em a mim através <strong>de</strong> sua paisagem pobre e o característico seja o que <strong>de</strong>las me vem à<br />
alma. Não disse alma e está certo. É este Brasil, obscuro, feito <strong>de</strong> almas pobres e contrafeitas, o que me<br />
interessa. Apego-me a uma população <strong>de</strong> sombras – e o que vejo é como um telão <strong>de</strong> teatro que<br />
17