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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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(Crônica <strong>da</strong> Casa Assassina<strong>da</strong>): ela “vestia-se com um vestido <strong>de</strong> um preto<br />

<strong>de</strong>sbotado, sem enfeites, e inteiramente fora <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>.” (CARDOSO, 1991:69).<br />

156<br />

Contrastando com essa simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> e trocando <strong>de</strong> palco, ao tomar<br />

conhecimento do luxo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Angélica, “uma solteirona <strong>de</strong> meia-i<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

páli<strong>da</strong>, extravagantemente vesti<strong>da</strong>, com um luxo fantástico e ‘<strong>de</strong>modée’ (...)<br />

[que] Traz jóias excessivas, <strong>de</strong>monstrando uma visível vai<strong>da</strong><strong>de</strong>.”(CARDOSO,<br />

s/d:1), a recor<strong>da</strong>ção acor<strong>da</strong> Aurélia, patroa do Desconhecido e igualmente<br />

dona <strong>de</strong> uma fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> interior:<br />

José Roberto acompanhou-a, vendo <strong>de</strong>satarem-se na obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

as longas pregas do seu vestido <strong>de</strong> veludo. Realmente, ele nunca a<br />

tinha visto assim, vesti<strong>da</strong> com uma pompa tão solene, um apuro tão<br />

gran<strong>de</strong> nos menores <strong>de</strong>talhes. (...) viu faiscar sobre o seu peito<br />

magro uma enorme safira. Via-se que era um colar antigo, trabalho<br />

em ouro branco, representando um ramo <strong>de</strong> folhas miú<strong>da</strong>s que ia<br />

terminar na pedra solitária. (CARDOSO, 1969:221)<br />

Tanto a simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> fora <strong>de</strong> mo<strong>da</strong> quanto o luxo <strong>de</strong>modée indiciam o<br />

“tempo estagnado” em que as personagens cardosianas se movimentam, seja<br />

nos dramas seja no universo romanesco.<br />

Em Angélica, além do cenário com traços <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência e dos trajes já<br />

comentados, o fato <strong>de</strong> a protagonista tratar as moças como simples objetos,<br />

sem se im<strong>por</strong>tar com suas individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (fato que se explicita pelos vestidos<br />

que ela passa <strong>de</strong> uma para outra apenas fazendo pequenos ajustes) também<br />

lembra o com<strong>por</strong>tamento <strong>de</strong> Aurélia que, sem qualquer interesse pela<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do novo empregado, dá-lhe o nome do anterior, que havia morrido e<br />

<strong>de</strong> quem, <strong>de</strong>scobre-se ao longo do livro, ela recebeu atenções que também<br />

espera receber do Desconhecido.<br />

Falando-se em personagens, ao leitor <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong> já são íntimas as suas<br />

criaturas “gauches”, que se sentem à margem e sempre carregam consigo a<br />

impressão <strong>de</strong> “exílio”. To<strong>da</strong>s compartilham, em maior ou menor grau, <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>scrição que Cláudio, protagonista <strong>de</strong> O Anfiteatro faz <strong>de</strong> si mesmo:<br />

Decerto me compreen<strong>de</strong>rão sem esforço os que tiverem sido um dia<br />

órfão <strong>da</strong>s coisas – os tristes, os ina<strong>da</strong>ptados, os que transitam em<br />

<strong>de</strong>sespera<strong>da</strong> solidão, sem <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> pactuar e sem possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fugir, fortes <strong>de</strong>mais para esta vi<strong>da</strong>, frágeis <strong>de</strong>mais para a morte<br />

prematura. (...) Fui um <strong>de</strong>sses rapazes tristes que trazem em si um

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