13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(castiçais <strong>de</strong> prata e cristal) se misturam a “objetos <strong>de</strong> mau gosto” que<br />

compõem a casa <strong>da</strong> protagonista, “uma solteirona <strong>de</strong> meia-i<strong>da</strong><strong>de</strong>, páli<strong>da</strong>,<br />

extravagantemente vesti<strong>da</strong>, com um luxo fantástico e ‘<strong>de</strong>modée’ (...) Traz jóias<br />

excessivas, <strong>de</strong>monstrando uma visível vai<strong>da</strong><strong>de</strong>.”(CARDOSO, s/d:1) e abana-se<br />

nervosamente com um leque.<br />

131<br />

As primeiras falas revelam que alguém acaba <strong>de</strong> morrer. Apesar disso,<br />

Angélica não sente nenhum pesar, afirma que “há muito tempo não me sentia<br />

tão bem como agora” (CARDOSO, s/d:2). Está dispensando Joana, “uma<br />

cria<strong>da</strong> idosa, sem nenhum traço particular” (CARDOSO, s/d:1), man<strong>da</strong>ndo-a<br />

chamar o padre quando toca a campainha. A visita inespera<strong>da</strong> <strong>de</strong>ixa Angélica<br />

nervosa e, a contragosto, recebe as vizinhas que trazem pêsames (“Mal<br />

cumprimento as pessoas na rua, <strong>de</strong>testo-os. Porque (sic) esses visinhos (sic)<br />

insistem em ser amáveis?” – CARDOSO, s/d:3)<br />

Apesar <strong>da</strong> situação, preocupa-se:<br />

ANGÉLICA: Espere! Você acha que eu estou bem assim? Não seria<br />

melhor mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> vestido?<br />

JOANA: A patroa sabe que nesta al<strong>de</strong>ia ninguém se veste melhor:<br />

para que outro vestido?<br />

ANGÉLICA: Ao menos um chale [sic]... Não ficaria bem um chale<br />

[sic] nos ombros? (CARDOSO, s/d:4)<br />

Na conversa que se segue, o espectador <strong>de</strong>scobre que Angélica mora<br />

sozinha na fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte <strong>de</strong> sua irmã mais nova e recolhe meninas<br />

órfãs, <strong>de</strong> quem cui<strong>da</strong>. Segundo as visitas, “to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> comenta largamente<br />

os seus dons generosos” (CARDOSO, s/d:7). A terceira <strong>de</strong>ssas moças,<br />

Maninha, é quem acaba <strong>de</strong> morrer vítima <strong>de</strong> um “mal misterioso”. As duas<br />

primeiras jovens também tiveram o mesmo fim. Apesar dos “infortúnios”,<br />

Angélica reitera que continuará a cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> moças <strong>de</strong>sampara<strong>da</strong>s <strong>por</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e <strong>por</strong>que não gosta <strong>da</strong> solidão em que vive.<br />

As visitas louvam sua bon<strong>da</strong><strong>de</strong> (“O que a senhora faz é um ato <strong>de</strong><br />

cari<strong>da</strong><strong>de</strong> dos mais louváveis” – CARDOSO, s/d:7). Ela afirma estar um pouco<br />

cansa<strong>da</strong>, fala em férias e as vizinhas garantem que “jamais seu aspecto foi<br />

melhor” (CARDOSO, s/d:8) e que ela parece ter remoçado vinte anos. Angélica<br />

sorri, agra<strong>de</strong>ce e elas saem.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!