Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

O apoio financeiro foi buscado no Serviço Nacional de Teatro, órgão
governamental criado na ditadura Vargas. O grupo obteve um adiantamento e
a promessa de, posteriormente, a liberação de uma verba mais elevada.
O “Teatro de Câmera” decidiu, então, oferecer um repertório variado ao
público e selecionou: A Corda de Prata, de Lúcio Cardoso; Para além da vida,
do português Alberto Rebelo d’Almeirda; Mensagem sem rumo, de Agostinho
Olavo e O anfitrião, de Antônio José, o Judeu, adaptação de Rosário Fusco.
A Crítica – Murilo Mendes, Otávio de Faria, Paulo Mendes Campos,
Augusto Frederico Schmidt, José Lins do Rego e Clarice Lispector, em carta
cujo fragmento já foi citado – celebrou a iniciativa do Teatro de Câmera.
Fizeram coro Otto Maria Carpeaux, Ledo Ivo, José Osório de Oliveira, Nelson
Rodrigues, Paschoal Carlos Magno, Jorge de Lima, Breno Accioly, Rosário
Fusco, José Condé, Celso Kelly, Pompeu de Souza e outros tantos.
Entretanto, tal como acontecera vinte anos antes com o Teatro de
Brinquedo, não tinha sido previsto um êxito tão imediato. O
planejamento para a primeira temporada deu certo; não foi prevista,
entretanto, a possibilidade de uma segunda temporada, apesar dos
apelos recebidos. (DÓRIA, 1975: 128)
Algumas cartas que fazem parte do Arquivo de Lúcio Cardoso atestam a
desagregação do grupo. Em 13 de dezembro de 1947, Rogério Corção
comenta A Corda de Prata e pergunta por que Lúcio brigou com Agostinho
Olavo; Nelson Rodrigues, em 19 de outubro de 1948, comunica seu
afastamento da sociedade teatral porque não haveria a subvenção que Lúcio
lhe assegurara. Este, por sua vez, se dedicaria ao cinema e às novelas por um
tempo e só mais tarde retomaria o “Teatro de Câmera” pressionado por
compromissos que assumira com o Serviço Nacional do Teatro e que não
podia mais adiar.
A iniciativa cardosiana, embora não fosse exatamente pioneira 41 , rendeu
outros frutos para o Teatro além de sua primeira temporada: depois da
concretização desse empreendimento, outros caminhos se abriram para os
41 Em 1943, o então estudante e professor Décio de Almeida Prado fundava o “Grupo Universitário de
Teatro de São Paulo”, com objetivo de “apresentar ao povo o bom teatro e também com a finalidade de
auxiliar os Fundos Universitários de Pesquisas que, por sinal, têm patrocinado os nossos espetáculos.”
(PRADO, Apud DÓRIA, 1975: 121)
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