Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...
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Um jovem crítico <strong>de</strong> teatro, <strong>de</strong>sses que a juventu<strong>de</strong> supera as<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, afirmou que pa<strong>de</strong>cíamos do mal dos “gran<strong>de</strong>s temas”.<br />
Fiquei imaginando Dona Xepa, A pensão <strong>de</strong> dona Stela e Miloca<br />
recebe aos sábados. O que não faríamos se não sofrêssemos <strong>de</strong>sse<br />
mal...<br />
Nem tudo, <strong>por</strong>ém, eram críticas. No artigo arquivado sob o número 47,<br />
<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> elogia Herança barroca, <strong>de</strong> Léo Victor, na qual enxerga<br />
“quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s apreciáveis” que, contudo, não <strong>de</strong>talha. Elogia, também, noutra<br />
nota do mesmo artigo, Me<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong> Agostinho Olavo (seu antigo sócio no<br />
empreendimento do “Teatro <strong>de</strong> Câmera”) e diz que a peça mereceu<br />
“incondicionais elogios <strong>de</strong> Santa Rosa”.<br />
Além <strong>de</strong>ssa coluna em que registrou essas notas rápi<strong>da</strong>s, muitas vezes<br />
pouco felizes, sempre cortantes, Renard Perez, escrevendo no Correio <strong>da</strong><br />
manhã, em 09/05/1959, informa que <strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> fundou com Santa Rosa a<br />
Sua Revista, uma publicação literária que conteria traduções <strong>de</strong> Ibsen,<br />
Piran<strong>de</strong>llo, Dostoievski e na qual colaboravam, “entre outros, A<strong>de</strong>rbal Jurema,<br />
Val<strong>de</strong>mar Cavalcanti, Aluísio Branco, Guilherme <strong>de</strong> Figueiredo...”. Embora a<br />
Revista só tenha tido um número publicado, sua iniciativa, soma<strong>da</strong> à formação<br />
do “Teatro <strong>de</strong> Câmera” e as peças leva<strong>da</strong>s ao palco tornam claro que o teatro<br />
foi uma preocupação para <strong>Lúcio</strong>, exce<strong>de</strong>ndo ao mero capricho momentâneo ou<br />
ao puro diletantismo artístico. Ele mesmo assinala, aliás:<br />
... não me aproximei do teatro ou do cinema como <strong>de</strong>rivativos do<br />
romance, ou em substituição às novelas que escrevo e <strong>da</strong>s quais me<br />
sentia cansado. Ao contrário, foi um ato <strong>de</strong> plena consciência,<br />
imaginando que seria possível fazer muito neste terreno ain<strong>da</strong> tão<br />
pobre entre nós. (CARDOSO, 1970:57)<br />
Em entrevista a Sábato Magaldi, intitula<strong>da</strong> “<strong>Lúcio</strong> <strong>Cardoso</strong> fala-nos <strong>de</strong><br />
Teatro 29 ”, feita às vésperas <strong>de</strong> estrear sua última peça, Angélica, eis o balanço<br />
ele que faz <strong>de</strong> sua experiência teatral:<br />
— Fora as peças que escrevi, e que refletem uma experiência íntima,<br />
pessoal, que na<strong>da</strong> tem a ver com público e companhias teatrais –<br />
assisti à montagem <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s minhas peças pelo “Os<br />
Comediantes” [O Escravo], antes do aparecimento <strong>de</strong> Nelson<br />
29 Obti<strong>da</strong> na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
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