HELÂNIA CUNHA DE SOUSA CARDOSO A POESIA ... - Educadores
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poeta retome temas típicos da tradição lírica brasileira, como as reminiscências da infância<br />
em Pernambuco, a exaltação aos heróis da pátria, a morte etc., marcados pelo “afastamento<br />
suficiente” de sua terra, como assinala o poeta em entrevista citada, tais motivos são<br />
tratados segundo os moldes das outras linguagens, como veremos nos capítulos que se<br />
seguem.<br />
O livro Auto do frade (1984), por exemplo, é um “auto para vozes”, como afirma<br />
Cabral, “coisa muito visual, conseqüência daquela minha primeira impressão de que os<br />
últimos momentos do frei Caneca dariam um bom filme, e é estranho, um auto feito para<br />
teatro, não para cinema.” (ATHAY<strong>DE</strong>, 1998, p.117)<br />
O poema “Ocorrências de uma sevilhana”, do livro Agrestes (1981-1985), introduz<br />
outras vozes nos poemas, como no texto em prosa, embora ainda não haja as marcas do<br />
discurso direto:<br />
Me confiava uma sevilhana<br />
sem norte na grande Madrid:<br />
Nem sei de que lado é que vivo;<br />
só sei que é a três gritos daqui.<br />
(MELO NETO, 1997, p.231)<br />
Já no poema “Crime na Calle Relator” 61 , do livro de mesmo nome, constituído de<br />
poemas narrativos, ou de histórias ouvidas pelo poeta, o uso das aspas tem um valor<br />
semântico e uma eficácia importante para o entendimento do texto, pois implica a inserção<br />
da fala de uma jovem, uma bailarina de flamenco, que conta a sua história. É o relato de<br />
uma “história autêntica”, segundo João Cabral, e que merece, no plano da organização do<br />
discurso, um processo que atribui à personagem a responsabilidade da fala, ou seja,<br />
61 Conferir anexo 03<br />
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